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Festivais

17o Tiradentes (2014) – noite 6

Um Batman decadente e uma aberração semiótica

Por Luiz Joaquim | 01.02.2014 (sábado)

TIRADENTES (MG) – Batman sexagenário, gay, faltando um braço e decadente? Ao lado de um Robin na meia-idade que sai com o homem-morcego a procura de michê pela noite, além de praticar felação explícita num minotauro? E o que dizer de um longa-metragem inteiro feito por só uma pessoa, sem câmera, apenas com imagens captadas da internet?

Com o paraibano “Batguano”, de Tavinho Teixeira, e o paranaense “Aquilo que Fazemos com Nossas Desgraças”, de Arthur Tuoto – ambos exibidos aqui na quinta-feira pelo competitivo programa Aurora –, a 17a Mostra de Cinema de Tiradentes reforça sua coragem e importância em disponibilizar ao espectador e imprensa especializada um lado do atual cinema brasileiro absolutamente submerso da grande mídia, mas necessário para refletirmos (e nos divertir, por que não?) a respeito disso que chamamos cinema.

Fotografado por Marcelo Lordello, “Batguano” é o segundo longa de Tavinho que agregou humor a um historicamente sisudo programa Aurora, habitado por obras sempre profundas mas guiadas por uma atmosfera de gravidade.

Ainda assim, na ficção “Batguano” o diretor e roteirista não abre mão de um cinema também audacioso tanto no discurso quanto no formato. O enredo nos leva a um futuro no qual banana vale tanto quanto ouro, Batman (Everaldo Pontes) e Robin (Tavinho) moram num trailer velho e assistem tevê saudosos da época em que brilhavam nos tele-série dos anos 1960.

Permeado constantemente pelo humor e provocação sexual, Tavinho mistura diversas referências do cinema – a musica de Gustav Mahler usada em “Morte em Veneza”, cenas de “O Homem Elefante”, ou o uso de back-projection para insinuar o movimento de um carro parado no set – com a realidade do velho casal gay que é, na verdade, melancólica. Tavinho, mesmo rindo e nos fazendo rir, nos lembra da indesviável decadência de todos nós e que isso é, no final, algo bastante sério.

GODARD
Todo construído no computador pessoal de seu diretor, “Aquilo que Fazemos com Nossas Desgraças” intercala imagens extraídos da internet com diálogos da série “The World of Monster, a study on France/tour/détour/deux/enfants”, feito pela tevê francesa por
Jean-Luc Godar e Anne-Marie Miéville nos anos 1970.

“Ali eles criaram perguntas retóricas, metafóricas, políticas que remetem a monstros, mas acabam descrevendo a sociedade de um modo geral”, contextualizou Tuoto em debate ontem pela manhã.

O filme é uma espécie de memória coletiva mundial, pelo qual impera o espírito livre de navegar pelo YouTube, com uma liberdade própria que só o ambiente online proporciona. Como diz o próprio diretor, seu filme é uma espécie de uma “aberração semiótica”. E muito bem vinda.

GAITÁN – A noite de quinta-feira ainda exibiu, encerrando a programação do dia, “Exilados do Vulcão”, filme de Paula Gaitán que venceu o último Festival de Brasília. Nele, uma mulher vaga pela memória que um diário, salvo de um incêndio, lhe oferece.

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