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Críticas

RoboCop (2014)

Mais politicagem, menos violência física

Por Luiz Joaquim | 21.02.2014 (sexta-feira)

Logo na abertura da tão aguardada refilmagem de “RoboCop” (EUA, 2014), dirigido pelo carioca José Padilha e estreando hoje no Brasil, é de cara contextualizado o interesse da produção na universalização da situação de violência urbana que domina todo o mundo.

Se a produção original dirigida por Paul Verhoeven em 1987 tinha como início a inédita estratégia de abrir um filme com uma imagem crua de um noticiário de um telejornal, no caso da cidade americana de Detroit, no novo filme temos também o âncora de um telejornal, mas ele é um sensacionalista (Samuel L. Jackson) interagindo com uma repórter no Teerã.

Lá, a jornalista cobre a demonstração dos Drones – robôs militares desenvolvidos pelo Dr. Dennett (Gary Oldman) para o diretor Raymond (Michael Keaton) da empresa OmniCorp. Criados para serem mais eficazes no combate a violência, a invenção faz sucesso no mundo inteiro, mas por questões políticas não pode ser comercializada no mercado mais rico e violento do mundo: os EUA.

A pendenga entre a OmniCorp e a legislação americana diz respeito ao fato que uma máquina não saberá agir diante de um dilema moral, optando pela destruição, defende um membro do senado. É quando Raymond tem a ideia de “por um homem dentro de uma máquina”, e encontra o policial Murphy (Joel Kinnaman) mutilado por conta de uma explosão causada por bandidos que investigava.

E, apesar da primeira parte do novo “RoboCop” concentrar força em detalhes tecnológicos e em suas derivações éticas, a energia de Padilha é aqui mais direcionada mesmo para aquilo que o deixou famoso no mundo: o filme “Tropa de Elite”.

A investigação na que Murphy trabalhava apontava para um possível esquema corrupto na policia de Detroit, que fornecia armamento para bandidos. E, de fato, os momentos mais originais do filme estão nas soluções visuais pensadas por Padilha – com a fotografia de Lula Carvalho e montagem de Daniel Rezende – para desbaratar tais esquemas corruptos.

A orientação no roteiro de Joshua Zetumer é explicitar menos a violência – sinais dos tempos – e destacar mais essa elaborada teia de relações fora-da-lei. E, de fato, a violência antes tão impactante no filme de 1987 é agora plasticamente minimizada.

O melhor exemplo está na forma como Murphy é mutilado no primeiro filme (sendo seus membros prazerosamente decepados pelos bandidos armados com metralhadoras) e como ele é vitimizado neste novo trabalho (por um explosão à distancia).

O lado humano do policial Murphy ganhou mais prestígio aqui, tanto pela relação com a esposa (Abbie Cornish) e seu filho, quanto pelo sofrimento físico de Murphy.

Num dos momentos mais chocantes do filme, o Dr. Dennett desmonta a carcaça do RoboCop e mostra a Murphy o que lhe sobrou de orgânico. Além da cabeça, há os pulmões com o sistema respiratório, e o coração com o sistema sanguíneo, além de sua mão direita. E só. Ao se ver assim, Murphy só tem um desejo. Morrer imediatamente.

Mas enquanto Padilha agrada nos momentos mais humanos, seu trabalho nas cenas de ação mediadas por efeitos digitais CGI não passam do tradicional hollywoodiano que, de qualquer forma, aparecem com segurança em sua estreia numa mega-produção gringa.

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