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Críticas

Sem Escalas

Percalços de um voo condenado

Por Luiz Joaquim | 28.02.2014 (sexta-feira)

Aeroportos são naturalmente ambientes tensos. Seja para o bem ou para mal. E o diretor espanhol Jaume Collet-Serra deixa isso bem claro já no prólogo de seu “Sem Escalas” (Non-stop, EUA/Fra., 2014) quando somos apresentados ao seu protagonista, o agente federal Marks (o bom Liam Neeson). A cada passo que dá em direção ao voo que fará de Nova Iorque a Londres, Marks, e nós, vamos sendo colocados dentro daquele universo concentrado de estranhos. A maioria apressada, ensimesmadas, despedindo-se tristes, ou felizes pela chegada.

Ainda nesse prólogo, com os créditos surgindo à nossa frente, já é fácil de enxergar a competência de Collet-Serra em imprimir uma atmosfera dura. E só por esse clima fica já firmado com o espectador que todos os mínimos detalhes importam para bem compreendermos a história que está para começar; e é exatamente por isso que “Sem Escalas” é tenso do início ao fim.

Pouco sabemos de Mark, apenas que ele odeia voar; e pouco vamos sabendo ao longo do voo. Essa dosagem milimétrica de informações que nos chega é outro trunfo de “Sem Escalas”. Mesmo após um sem-número de conhecidos filmes de suspenses ocorrendo claustrofobicamente durante o voo num avião, o roteiro de Ryan Engle, John W. Richardson e Christopher Roach – a partir de uma história criada por estes dois últimos – ainda consegue nos surpreender e desnortear. É o típico e elaborado jogo onde tudo é suspeito e, a certa hora, nos vemos desconfiando até do heroi.

Assim que decola, o agente federal – a paisana na aeronave para garantir a segurança num voo de seis horas de duração – recebe no circuito fechado de seu celular a mensagem de um passageiro dizendo que se não for depositado US$ 150 milhões num conta bancária, um passageiro será morto a cada 20 minutos.

Dizer além disto é estragar as constantes e ininterruptas situações de conflitos muito bem apresentadas pelo roteiro e bem administradas na direção de Collet-Serra. Para a boa fruição, entretanto, vale lembrar que, como um jogo de xadrez, cada personagem satélite apresentado aqui terá fundamental importância no destino deste voo condenado. Desde a bela mulher que senta ao lado do agente para puxar conversa (Julianne Moore), passando pelo árabe e chegando a menininha que ainda no saguão do aeroporto esquece seu ursinho de pelúcia no chão.

Do ponto de vista da presença dos atores, todos estão lá inteiros, impondo a real energia de urgência num voo em que gradativamente vai ficando estranho, tendo apenas um homem como dono de todas as respostas sobre o que está acontecendo de sério. São respostas que só chegam aos passageiros no limite do estresse do agente Marks.

Assim como o mestre Hitchcock ensinou, Coullet-Serra deixa apenas nosso herói e nós, espectadores, cientes do desastre prestes a acontecer. Nesse exercício, em que aproveita muito bem as novas tecnologias (celular, internet) para costurar a trama, saber em que momento revelar o segredo é vital. Coisa que Collet-Serra faz muito bem. E, ainda que o filme apresente-se com alguns cacoetes estéticos próprios de recentes obras do gênero, como um exagero no uso da câmera lenta, “Sem Escalas” mostra-se uma pérola entre eles.

PARCERIA – Este é o segundo filme em que o diretor Jaume Collet-Serra trabalha com Liam Neeson. No anterior “Desconhecido” (2011) – outro ótimo suspense – Neeson é um sujeito que saiu de um coma após quatro dias, e descobre que sua esposa não o reconhece, enquanto ela vive com outro que assumiu sua identidade.

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