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Críticas

Trapaça

Cabeludos e cambalacheros

Por Luiz Joaquim | 07.02.2014 (sexta-feira)

O mestre do cambalacho Irving Rosenfeld (Christian Bale), que protagoniza “Trapaça” (American Hustle, EUA, 2013) não está em boa forma física com seu barrigão e nem é exatamente atraente com aquele cabelo que parece um carpete sobre a cabeça. Quem diz é sua própria amante, Sidney (Amy Adams) na abertura do filme de David O. Russel, que estreia hoje no Brasil com o respaldo de dez indicações ao Oscar 2014 – cerimônia é dia 2 de março.

Mas, o que diferencia Irving dos outros homens é sua auto-confiança. Fã de Duke Ellington, de quem escuta a clássica “Jeep s Blues” como se levitasse, Irving é o próprio jazz personificado num ser-humano. Aliás, a analogia entre o improviso – essencial do jazz – e a forma como Irving toca sua vida engabelando os outros para ganhar dinheiro é um tanto óbvia aqui.

“Quem começa uma música assim?” admira-se Irving com a audácia de Ellington. A pergunta de admiração também poderia ser feita por Sidney sobre seu amante. “Afinal, quem é esse cara que ganha a vida desse jeito?”.

Um tanto excessivo no desejo de promover “homenagem” aos filmes dos anos 1970, “A Trapaça” atrapalha-se no exagero. Com figurino e direção de arte descolada (até demais), o desfile na composição dos personagens até diverte, principalmente no quesito “penteado”.

Uma exemplo destas “homenagens” acontece quando o agente do FBI, Richie (Bradley Cooper, atuando aqui no mesmo espírito de personagem em “O Lado Bom da Vida”, também dirigido por Russell) vai a discoteca. Na cena, óbvia, ele simula um John Travolta em “Os Embalos de Sábado à Noite”, numa dança com Sidney. As músicas, à propósito, rendem aqui uma boa trilha sonora, incluindo, além de Ellington, gente como Elton John e Santana

Mas mesmo com um esforçado roteiro – escrito por. Russell e Eric Warren Singer – carregado de diálogos rápidos e cômicos (pela velocidade), a história acaba soando mesmo como um sub-projeto de Martin Scorsese – e ainda conta com uma participação de Robert De Niro. O que é um problema para “Trapaça” uma vez que compete contemporaneamente nos cinemas com um novo e ótimo filme – “O Lobo de Wall Street” – do mestre que “homenageia”.

Mesmo assim, a história segue quase sempre firme, ao retratar um real escândalo ocorrido em 1978 envolvendo uma investigação do FBI sobre políticos corruptos relacionados com xeiques do oriente. Talvez o melhor personagem, depois do tranbiqueiro Irving, seja o prefeito de New Jersey, Carmine. Na pele Jeremy Renner, Carmine está muito bem defendido.

Ele, assim como Bale, dão a seus personagens o mérito da dúvida. Por serem multifacetados, não sabemos se concordamos ou não com eles. Ao contrário do filme em si, que nos obriga a concordar com todas as direções que Russell quer nos guiar.

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