X

0 Comentários

Críticas

300 A Ascensão do Império

A hiper-realidade que dá sono

Por Luiz Joaquim | 07.03.2014 (sexta-feira)

É dificil levar à sério um filme em que dramatiza o grito de guerra de um de seus personagens com o efeito de supercamera-lenta. Com a imagem, escutamos seu comando de ataque em tom gultural num interminável “a-a-g-o-o-o-o-o-r-a-a-a !!”. É assim em “300: A Ascensão do Império” (300: Rise of an Empire, EUA, 2014), de Noam Murro, estreando hoje em todos os multiplex do Brasil.

Assim como o anterior “300” – que tornou conhecido o diretor Zack Snyder em 2006 – este novo filme abusa da tal supercamera-lenta, com seus atores sempre cercado por efeitos CGI em todos as tomadas do filme. Isso significa que quase nada é real, exceto os atores com suas indumentárias. E mesmo estes sofrem um pesado tratamento de digitalização visual.

Assim como o medonho ultralento grito de guerra do general grego Temístocles (Sullivan Stapleton), descrito acima, qualquer ação em supercamera-lenta aqui é aproveitada para emprestar o valor que “300: A Ascensão do Império” não tem e gostaria de ter. Seja pela pisada de um soldado numa poça de lama, com os pingos tomando milimetricamente suas diversas direções, ou seja pelo pingo de sangue que leva uma eternidade para concluir seu trajeto do capacete de um soldado ateniense até o chão.

O contrasenso aqui está no fato de que esse interesse pela ultra-realidade da imagem nos afasta, de uma forma atroz, daquilo que entendemos como realidade. E quando não apela à plástica, pela estética extradefinida dos videogames de violência dos dias de hoje, “A Ascensão do Império” apela à falácia.

A começar pela cena de abertura, com Rodrigo Santoro como o Deus-Rei persa, Xerxes, decepando – em supercâmera lenta, claro – a cabeça do rei Leônidas de Esparta. Logo depois, o que vem na sequência é um imenso blá-blá-blá em off tentando nos orientar quanto a situação que irá desencadear a guerra entre os persas Xerxes e Artemísia (Eva Green) contra o ateniense Temístocles.

Como referência histórica, “A Ascensão do Império” é um desastre. É assim pela sua capacidade de provocar dispersão, ao invés de tornar a história antiga em algo complexo. O filme a torna enfadonha. Em destaque mesmo estão palavras de ordem para guerra, mas aqui berradas tais quais “clichês de palavras de ordem”.

O general grita “Lutem pela sua honra, pela Grécia, pela sua família e democrácia…”; enquanto o filme não dá nenhuma ideia a seu espectador sobre o que seria esse tal de honra, de Grécia, de família ou democracia. Não temos nenhum pista, inclusive, do ponto de vista histórico da batalha de Maratona (480 a.C.), citada no filme como estopim para a grande guerra posterior.

Sobre a presença de Santoro, o brasileiro ganha mais espaço e valor que no filme anterior, mas o brilho é mesmo para o herói inflexível de Stapleton e para Eva Green que, como toda boa malvada, aparece usando calça cumprida bem apertada, e na cor preta, mesmo tendo lugar 2.500 anos atrás.

ADAPTAÇÃO – “300: A Ascensão do Império” foi adaptado do HQ criado por Frank Miller e inicialmente teria como título “Xerxes”, mas os estúdios acharam por bem aproveitar a marca “300” do filme anterior.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade