X

0 Comentários

Críticas

Vidas ao Vento

Asas para a liberdade

Por Luiz Joaquim | 27.03.2014 (quinta-feira)

“Le Vent se Lève”, il faut tenter de vivre” (o vento se eleva, é preciso tentar viver). É por esta citação a um poema de Paul Valéry que “Vidas ao Vento” (Kaze Tachinu, Jap., 2013), filme do mestre Hayao Miyazaki, dá sua primeira informação ao espectador. Com, finalmente, estreia hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco após rápida exposição na mídia por ter concorrido ao Oscar de animação neste ano, “Vidas ao Vento” é infelizmente, conforme já anunciado pelo diretor de 73 anos, seu último longa-metragem.

A boa notícia é que “Vidas ao Vento” e um de seus melhores trabalhos por diversos aspectos. É daqueles que oferece prazer tanto em ver quanto rever de tempos em tempos. Mais conhecido no Brasil por “A Viagem de Chihiro” (2001) e “O Castelo Animado” (2004), Miyazaki agora dá asa a sua imaginação (com o perdão do trocadilho) a partir da história real do projetista japonês de aviões, Jiro Horikoshi (1903-1982), indo de sua infância à maturidade.

No início do século 20, conhecemos Jiro como um garoto pobre e fascinado por aviões. Em seus sonhos, que o acompanham até a vida adulta, ele é amigo do ícone italiano da aviação na primeira década daquele século, Giovanni Caproni (1886-1957). Por Caproni, Jiro entende a importância do vento como aliado para fazer de seus sonhos algo concreto.

Miope, não podia pilotar, mas torna-se o mais admirado designer da aviação japonesa, além de célebre pelo projeto do avião mono motor Zero-sen, símbolo da força do Japão, utilizado na 2ª Guerra Mundial. Sendo um pacifista, Jiro não pensava em aviões como instrumento de guerra, o que gerava tensões na fábrica para a qual trabalhava, a Mitsubishi.

Num misto de representação documental com dramatização da vida de Jiro, o mestre Miyazaki entrelaça fatos históricos marcantes do País daquele período com os próprios rumos da vida do protagonista. É o caso do grande terremoto de Kanto (1923), tragédia representada aqui de forma comovente, que proporciona Jiro conhecer a frágil Naoko, aquela que viria a ser a sua esposa. Miyazaki ainda inclui o drama da a grande depressão econômica (1929) e a ascensão do Nazismo, com a atuação da polícia ideológica.

No que concerne a boa qualidade e beleza cinematográfica, “Vidas ao Ventos” só reforça o talento de Miyazaki em saber conduzir uma história lúdica, lindamente ilustrada pela sua animação fortemente colorida e livre do barroquismo da tridimensionalidade fetichista comum ao mercado Hollywoodiano. O traço do mestre Miyazaki é preciso em sua simplicidade, e sabe ser audacioso quando necessário. Junte-se aqui o riquissimo trabalho de mixagem de som, com detalhes de ruídos que dão toda uma ambiência de sutil sedução à história do jovem Jiro, que se movimentava em função de tentar viver, inspirado sempre pelo vento.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade