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Festivais

18º Cine-PE (2014) – dia 2

Jornalismo em questão

Por Luiz Joaquim | 27.04.2014 (domingo)

Parece mentira, mas Jorge Furtado nunca veio ao Cine-PE. Hoje o festival pernambucano engorda (bem) seu currículo promovendo a quarta exibição no Brasil do novo documentário – “O Mercado de Notícias” – do gaúcho que ganhou o mundo a partir do curta-metragem “Ilha das Flores” (1989) quando premiado no Festival de Berlim. Dali em diante, a história sobre a trajetória de um tomate até o lixão tornaria-se um dos docs. mais importantes na história do cinema brasileiro.

Já “O Mercado de Notícias”, um longa-metragem, está em início de carreira. Tornou-se público há duas semanas no festival “É Tudo Verdade”, em São Paulo e Rio de Janeiro. Chega ao Recife sob grande expectativa uma vez que nele Furtado diz fazer uma reflexão sobre o papel da tão maltratada e malfadada imprensa dos dias de hoje.

A ideia surgiu quando o cineasta estudava a história social da mídia e teve acesso, em 2006, a peça “The Staple of News”, escrita em 1625 pelo dramaturgo britânico Ben Jonson. “Li o texto no original, num inglês arcaico. Apesar de ser um estudioso da obra de [William] Shakeaspeare, ler Jonson foi ainda mais difícil, pois ali estava uma crônica e havia muitas expressões próprias da época”, contou o diretor a Folha.

Mas, o que fez desse texto algo tão especial para Furtado – e traduzido pela primeira vez para o português por ele com a professora Liziane Kugland – dizia respeito ao fato dele se referir com muito humor a uma novidade londrina da época, o jornalismo, posta em prática apenas três anos antes.

“Muitas dos aspectos com os quais nos deparamos ainda hoje já estavam lá na peça, como a relação do jornalista com a fonte, seus financimentos, e mesmo aquelas pessoas que fazem de tudo para aparecer no jornal”, adianta. “Era um momento de grande transformação no modo como a informação circulava. Antes ela seguia por manuscritos, cartas. Essa relação mudou completamente com a imprensa. Hoje a gente vive uma situação equivalente com a explosão da internet”.

Como estruturação para seu documentário, Furtado o dividiu em três linhas. Numa delas, o diretor encena a peça de 36 personagens apoiado por 14 atores. “O processo é bastante auto-explicativo. Incluo imagens da primeira leitura dos atores, quando nem eles próprios sabiam o que iam fazer”.

Há também em “O Mercado de Notícias” depoimentos de bambas do jornalismo no Brasil – como Geneton Moraes Neto, Jânio de Freitas, Bob Fernandes, Cristiana Lôbo, Fernando Rodriguês e José Roberto de Toledo – problematizando o papel da imprensa. “E uma terceira linha é a que chamo de mini-docs. São uns dez casos que insiro com acontecimentos interessantes”, diz.

Furtado finaliza a entrevista ressaltando que ele não tinha uma tese e provar com o seu doc., seu interesse era investigar o que é o jornalismo. “Procurei atingir um leque bem grande e estamos usando como slogan a seguinte frase: Se você não está em dúvida, é porque foi mal informado”, provoca.

POLÊMICA – “O Mercado de Notícias” deve gerar discussões. Em entrevista publicada na revista “Brasil de Fato”, em junho do ano passado, Furtado alfinetou: “É a elite quem mais lê jornais. A antiga imprensa brasileira é monocórdia, fala a um mesmo público, cada vez menor e cada vez mais conservador”. O diretor ainda trabalha também na pré-produção de “Beleza”, sobre as modelos gaúchas que ganham as passarelas do mundo.

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