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Festivais

18º Cine-PE (2014) – noite 2

Maratona de qualidade no Cine-PE

Por Luiz Joaquim | 29.04.2014 (terça-feira)

Se seu primeiro grande sucesso, o curta-metragem “Ilha das Flores” (1989), virou peça obrigatória nas faculdades de jornalismo, o cineasta gaúcho Jorge Furtado apresenta agora um novo caderno audiovisual a ser observado não apenas pela alunos de comunicação, mas por todos aqueles que fazem da imprensa a razão de sua vida profissional. Esse caderno chama-se “O Mercado de Notícias” e, na noite de domingo, foi o primeiro documentário em longa-metragem competindo neste 18º Cine-PE: Festival do Audiovisual.

Ainda no palco, em sua apresentação, Furtado mostrou porque goza de reconhecimento como um cineasta erudito. Recitou um trecho repetido no filme, no qual pede que sejamos conscienciosos no julgamento da peça, quando a palavra assevera o fato. A peça a que se refere foi escrita na Inglaterra, em 1625, por Ben Jonson sobre os primeiros e já viciados anos da atividade jornalística.

No filme, Furtado encena a obra de Jonson e a intercala com depoimentos de craques da mídia como Mino Carta, Luis Nassif, Geneton Moraes Neto, Jânio de Freitas entre outros. Amarrando-os, tópicos como ética, a fonte, a publicidade, a celebridade, a distinção entre liberdade de imprensa e de expressão, os erros e o futuro.

Apesar da aparente estrutura didática, “O Mercado…” passa longe disso. O que há, permeando tudo, é o humor fino de Furtado, apoiada pelo não menos craque Giba Assis Brasil na edição do filme. Para ilustrar isto está lá, para deliciarmo-nos, Furtado analisando o cinismo da mídia no caso da bolinha de papel jogada na cabeça de José Serra, então canditado a presidência da república em 2010; ou o caso do “Picasso original” encontrado num prédio do INSS; e ainda o triste caso da Escola Base.

Entre tantas questões serías levantadas, talvez uma das mais pulsantes – em função de ser uma realidade contemporânea – esteja na falta de identidade que a mídia impressa vem vivenciando ao tentar abarcar um alcance só possível pela internet. “Não é o caso de nos tornamos iguais a internet”, comenta um entrevistado; “e o incêndio na padaria da esquina não é necessariamente uma notícia, é apenas um fato”, alerta outro.

O segundo doc. em competição, “1960”, veio de Portugal. Nele, o diretor Rodrigo Areias apropia-se de algumas imagens feitas em Supe8 pelo arquiteto Fernando Távora ao redor do mundo – EUA, México, Brasil, Japão, Égito, França e outros – enquanto as preenche narrando suas impressões chamando atenção particularmente para aspectos da relação do homem com seu ambiente e sua arquitetura. É um filme que, como comentou um colega, está mais para o perfil do Janela Internacional de Cinema do que para o Cine-PE. E isto é um elogio para ambos.

O belo trabalho de Areias só teve sua apreciação prejudicada em função da longa maratona da noite de domingo, que incluiu entre um doc e outro a exibição da ficção “Getúlio” – filme de João Jardim estrelado por Toni Ramos (estreando nesta quinta-feira) – e ainda os curtas “Frascos”, de Ariana Nuala; e “Ecce Homo”, de Clodoaldo Linometragens. A maratona encerrou próximo a 1h da madruga de ontem (28/04).

Por ter iniciado às 23h40 do domingo, o festival decidiu reexibir “1960” no Teatro Guararapes nesta quinta-feira (01/05), às 17h, com entrada franca.

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