1º Cinema na Mata: Curta a Palavra (2014)
Filmes inspirado em palavras
Por Luiz Joaquim | 08.04.2014 (terça-feira)
Entre tantas fotografias importantes na história da imprensa brasileira, uma tornou-se emblemática por mostrar a expressão de fascinação de espectadores reunidos na praça pública de uma cidade interiorana do Nordeste. Era os anos 1970 e, na foto, pessoas se amontoam diante de um televisor ali instalado. O objeto da reportagem era a cada vez maior penetração da tevê brasileira em todas as regiões do País.
Quase 40 anos depois, tal expressão, com pouca variação, poderá ser testemunhada novamente. Desta vez não por conta de uma programação televisiva, e sim por sessões de cinema que, a partir dessa sexta-feira (11) tomarão a pequena cidade de Amaraji, município da Mata Sul de Pernambudo, a 96 quilômetros do Recife. Ali, desde aqueles mesmos anos 1970, seus habitantes não contam com uma sala de cinema.
A iniciativa intitulada “Cinema na Mata: Curta a Palavra” parte da produtora Clara Angélica que retoma um projeto anterior. “Em 2009 estivemos na mesma região lançando o Livros Andantes tendo como plano estimular a leitura em povoados rurais. Ali formamos bibliotecas tanto em associações comunitárias como em casa populares”, lembra Clara.
Num trabalho conjunto com o jornalista André Dib, o cineasta Quiá Rodrigues e o professor da Universidade Federal de Alagoas, Almir Guilhermino, Clara elaborou não apenas uma programação totalizando 28 curtas-metragens atraentes tanto para leigos quanto para especialista no audiovisual, mas também cinco oficinas.
Hoje Quiá Rodrigues dá partida ao curso Poesia quadro a quadro, com orientações para a técnica da animação em stop-motion; e na quinta-feira (10) Andréa Luna abre a oficina Origami/ecobrinquedos. “Um plano aqui é fazer estas duas oficinas interagirem, com objetos criados pelos alunos de Andréa serem utilizados no trabalho de Quiá”, adianta Dib.
Ainda na quinta-feira, os alunos aprederão a eloborar projetos culturais; e na sexta-feira (11) Carla Francine, Shirley Hunther e Mauro Lira comanda o curso Cinema e educação, enquanto Amanda Ramos fala da Criação e manutenção de cineclubes.
Com relação a exibição de filmes, divididos em quatro programas entre sexta e domingo (sessões às 11h, 16h, 18h, 21h), uma ideia já pré-definida por Clara, Quiá e Almir era mostrar curtas que foram adaptados da literatura. “Quando fui convidado”, conta Dib, “pensei em obras também numa outra linha. Filmes que tivessem um lastro na palavra, mas não num livro. Que tivessem sua potência na oralidade”.
Como exemplo, o jornalista cita o ótimo “Cowboy”, de Tarcísio Lara Puiati, e “A Queima”, de Diogo Benevides; e ainda “Imagine uma menina com Cabelos de Brasil”, de Alexandre Bersot, que fez o sentido inverso. De filme, tornou-se um livro.
Outro destaque é a primeira exibição no Estado do brasiliense “Suassuna: A Peleja do Sonho com a Injustiça” de Felipe Gontijo. O título que a primeira sessão na sexta-feira exibe é um trecho de uma raridade: o filme inglês de 1903, “Alice no País das Maravilhas”, de Percy Stow e Cecil Hepworth. “É mais uma forma de resgatar a história da obra de Lewis Carroll que povoou a cabeça de tantas gerações”, concluiu Clara Angélica.
Serviço
Mostra Cinema na Mata – Curta a Palavra
Quando: de 8 a 13 de abril
Onde: Amaraji (Mata Sul, 96 km do Recife)
Informações: www.cinemanamata.co
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