Noé
O pecado de Noé, o filme
Por Luiz Joaquim | 03.04.2014 (quinta-feira)
Se for ao cinema assistir “Noé” (Noah, EUA, 2014), de Darren Aronofsky, esqueça o que leu na Bíblia sobre a figura cristã que salvou a humanidade do dilúvio universal. Apesar da Semana Santa que se aproxima e a data suscitar o cristianismo no Ocidente, os executivos da Paramount não tinha o menor interesse em fazer da produção algo fiel ao que se diz na Escritura Sagrada, mas apenas aproveitar a data para lançar um épico que envolvesse mais pela violência que pela fé.
Para começo de conversa, o nome “Deus” não é pronunciado no filme. Em seu lugar é dito o “Criador”. A solução é própria de Hollywood para tentar chegar (e fazer dinheiro) em todos os lugares do planeta sem causar desconforto nas mais diversas crenças (ou descrenças) do planeta.
Ainda assim, há duas semanas, as autoridades da Indonésia impediram que o filme estreasse por lá por considerarem “uma representação imprópria do profeta muçulmano”, indo contra a doutrina islâmica.
Após um ligeiro videoclipe sobre a criação do mundo e o pecado de Adão e Eva, o filme acelera sobre as desgraças feitas pelo homem, correndo por sua linhagem até chegar a Noé criança, o único descendente que ainda alimenta fé pelo Criador.
Já adulto, após um confronto com os Guardiões, que seriam os anjos que falharam ao tentar proteger Adão e Eva contra o pecado – e por isso foram condenados -, Noé (Russell Crowe) entende que deve construir a arca para purificar a Terra e recriar o Éden. Como conselheiro, tem seu avô Matusalém (Anthony Hopkins). Como ajudantes, a esposa (Jennifer Connelly, digna aqui) e Cam (Logan Lerman), além de Sem (Douglas Booth), casado com a adotada e estéril Ila (Emma Watson).
Numa obra que quer e precisa angariar a simpatia do jovem pagante que vai cinema, e não os católicos, não pensem em encontrar Guardiões com asas nas costas. Seu visual é o de monstros de cinco metros, feitos de rocha e aparência de Drones (os robôs inimigos do Robocop).
E em tempos do “politicamente correto”, Noé é vegetariano. “Os homens comem carne porque acham que sua força vem daí”, explica ao primogênito, ainda pequeno, Sem.
Entre um conflito de fé e outro do protagonista, entre uma batalha e outra contra os pecadores que querem invadir sua arca no início do dilúvio, “Noé”, o filme de Aronofsky, peca exatamente por tentar fazer de uma fábula que não precisa de interpretações lógicas, em algo que necessite convencer a todos sobre sua veracidade. O resultado é que temos mais um épico de plástico, abarrotado de efeitos especiais, com um confuso discurso. Uma pena.
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