18º Cine-PE (2014) – encerramento
Homenagem ao antiespetáculo
Por Luiz Joaquim | 02.05.2014 (sexta-feira)
O 18º Cine-PE: Festival do Audiovisual despede-se hoje de seu público. E pela primeira vez, desde 1998, o palco da cerimonia de encerramento não será o do Teatro Guararapes. Não contará também com a projeção de nenhum filme. A coordenação do evento reservou a beleza clássica do Teatro Santa Isabel – e suas 272 poltronas na plateia e 394 cadeiras de seus camarotes – para reunir os convidados.
A partir das 20h30 acontece o anuncio dos vencedores desta edição e as homenagens ao ator José Wilker (1944-2014) e aos 50 anos da obra-prima de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. A princípio fechada para convidados, a cerimonia agora poderá ser conferida por qualquer interessado que for buscar o convite, gratuito na bilheteria do teatro, disponíveis a partir das 19h.
Por uma triste ironia, a lembrança a Wilker, que viria a falecer em 5 de abril – apenas 17 dias depois de a produção anunciar a homenagem – transforma-se hoje numa celebração póstuma. O Cine-PE deve exibir trechos de filmes marcantes na história do ator, tendo algum membro da família do eterno Vadinho, de “Dona Flor e seus Dois Maridos” para receber a honraria.
Sob outra atmosfera, o festival joga seu foco sobre “Deus e O Diabo…”, o mais forte símbolo do “Cinema Novo”. Em seu livro “Olhar Crítico: 50 Anos de Cinema Brasileiro”, o crítico Ely Azeredo lembra que foi uma surpresa geral quando o Ministério das Relações Exteriores selecionou o filme da Glauber para nos representar em Cannes, quando o grande candidato da vez era “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos – filme que acabou sendo convidado pela própria direção do festival frances nos dando a oportunidade sem precedentes de termos dois filmes na sua competição oficial.
Ao contrário do realismo de “Vidas Secas”, o cinema de Glauber estava mais interessado em projetar uma intenção épica sobre a saga do vaqueiro nordestino Manuel (Geraldo Del Rey). Havia ali a ideia política da mudança, do progresso, da transformão não só do cinema como da própria realidade brasileira. Ainda assim, o barroquismo de “Deus e O Diabo…” não podia ser comparado ao lirismo social – e igualmente importante – da obra de Nelson Pereira.
Quando em Cannes, no planfleto de divulgação, Glauber dizia que pretendia “transportar para o cinema um autentico romance de aventuras nordestinas, destes que se compram em feiras: uma história trágica com uma conclusão historicamente válida”. 50 anos depois, vemos que ele conseguiu mais do que pretendia.
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