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Festivais

Getúlio

Os últimos dias do pai dos pobres

Por Luiz Joaquim | 01.05.2014 (quinta-feira)

Ele morre no final. A frase tem sido dita em tom de brincadeira – sem esconder uma certo mau gosto – quando se fala de “Getúlio” (Bra., 2014), filme dirigido por João Jardim, produzido por Carla Camurati e fotografado por Walter Carvalho, que entra em cartaz hoje em todo o Brasil.

Apesar de infame, a piada pode também ser lida como a mais sintética e eficaz crítica a esta cuidadosa produção de Jardim na qual o cineasta se proponhe a mostrar o que se passava na cabeça de Getúlio Vargas (1882-1954) enquartelado no palácio do Catete, duas semanas antes de, aos 72 anos, cometer o suicídio que mobilizou o pais inteiro num 24 de agosto, há 60 anos.

O ponto de partida no filme é o atentado sofrido pelo influente jornalista e deputado federal Carlos Lacerda (Alexandre Borges), o principal articulador da campanha contra a reeleição do “Pai dos Pobres”. O tiro erra Lacerda e acaba matando um major da aeronáutica. Uma vez exposto o envolvimento no atentado do chefe da guarda de segurança do presidente – Gregório (Thiago Justino) -, instala-se uma crise política que exige a renúncia de Getúlio.

Sem perder muito tempo em esmiuçar maiores motivações políticas por trás da tentativa de se promover um golpe de estado, Jardim concentra-se em aproveitar a (boa) ambientação cenográfica, que incluiu o próprio Palácio do Catete, e a muito boa caracterização de Tony Ramos como Vargas, 30 quilos mais gordo graças uma roupa especial importada dos EUA.

O trio Jardim, Carvalho e Ramos se apropriaram, com inteligência, mais dos silêncios no olhar reflexivo do protagonista do que tentaram formular explicações definitivas por trás das razões pelo suicídio. Uma boa parceria acontece também entre Ramos e a atriz Drica Moraes. Ela como Alzira, a dedicada e cuidadosa filha do presidente.

A aposta errada do filme parece mesmo aquela em que confia piamente na ideia de que já sabemos o final trágico do protagonista. É como se o filme gritasse na tela, com uma certa estridência, que “este homem irá se matar” depois de algumas das diversas aparições solitários de Getúlio no quarto em que saiu da vida para entrar na história.

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