Soa quase como uma ironia a estreia de “13º Distrito” (Brick Mansions, Fra./Can., 2014) nos multiplex recifenses hoje, dois dias após os confrontos violentos no Cais José Estelita, bairro de São José, entre a polícia militar e os integrantes do Movimento Ocupe Estelita.

Na abertura da aventura policial dirigida por Camille Delamarre, o prefeito de Detroit reune-se com um grande consórcio de investidores para planejar demolir toda a área de Brick Mansions e lá construir um gigantesco complexo empresarial.

O bairro é um gueto sujo, feio e habitado por muitos traficantes, mas também por famílias inocentes e honestas de trabalhadores. Cercada por altos muros e barricadas militares, a região tornou-se um problema para a prefeitura de Detroit em função de sua histórica omissão.

“13º Distrito” é uma refilmagem. Ela vem com o mesmo protagonista, o francês David Belle, que nos chega dez anos depois do original. Mas para a maioria dos espectadores é como se fosse um filme totalmente novo uma vez que “BR13: 13º Distrito” (2004), de Pierre Morel, é pouco conhecido por aqui.

Belle é figura fundamental na produção. São suas habilidades na prática do parkour, esporte que criou e tornou-se bastante popular na França, que dão ritmo ao enredo. Nada mais adequado para um filme de ação que um esporte cuja atividade consiste em mover-se de um ponto a outro o mais rápido possível, superando obstáculos do ambiente, como grades, muros, paredes, janelas, etc.

Outro atrativo do filme, particularmente aos fãs da franquia “Velozes e Furiosos”, será ver o ídolo Paul Walker neste que é seu último trabalho totalmente concluído. O ator faleceu num acidente automobilístico em 2013, aos 40 anos.

No enredo, Walker é Damien. Um detetive respeitado que é convocado para entrar em Brick Mansions e desativar uma bomba militar levada para lá pelos traficantes. Lá ele poderá contar com a ajuda de um ex-agente da polícia, ali infiltrado há anos, o rebelde Lino (Belle), que também quer libertar a namorada do chefão do tráfico, Tremaine (o astro do hip-hop, RZA).

Do ponto de vista estético, a edição picotada de “13º Distrito”, particularmente nas cenas em que Belle pinota de um lado para o outro, distraem mais que encantam. O ritmo visual da montagem em tais situações, com média de 50 cortes por minutos, parecem querer dizer que o talento de Belle no parkour hoje só resiste hoje graças ao malabarismo da linguagem cinematográfica.