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Festivais

3º Olhar (2014) – dia/noite 5

Uma improvável amizade

Por Luiz Joaquim | 03.06.2014 (terça-feira)

CURITIBA (PR) – É preciso exercitar a mente e tentar visualizar a impensável cena da frágil figura de Manuel Bandeira, ou João Cabral de Melo Neto, tomando aulas de luta de MMA com algum atleta da competição do UFC. Só assim o leitor terá uma pálida ideia do genial roteiro (e direção, e montagem e atuações) que resultou “L’Enlèvement de Michel Houellebecq” (O seqüestro de Michel Houellebecq).

Falamos do longa-metragem de ficção do francês Guillaume Nicloux que conquistou a todos aqui no 3o Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba.

Mas por que a relação entre nossos bardos e o violenta esporte para entender a graça do filme? Porque o Michel Houellebecq, 56 anos, do titulo é realmente um poeta e respeitado romancista francês que aqui interpreta a si mesmo.

Conhecido pelo seu ensaio sobre H. P. Lovecraft e pelo premiado romance “Partículas Elementares”, Michel, no filme, é colocado por semanas num idílico cativeiro no campo ao lado de três brutamontes, entre eles um fisiculturista com pretensões literárias.

A ideia surgiu de um caso real. Em setembro de 2011, toda a mídia francesa comentava o desaparecimento, sem deixar vestígios, de Michel. Houve quem falasse que ele tinha sido abduzido pela Al-Qaeda ou por alienígenas, e não faltaram twitters celebrando que o escritor polêmico não estava mais por perto.

Sem revelar detalhes sobre a intenção dos seqüestradores que não usam máscaras – um mau sinal, segundo a experiência de Michel com romances – o filme concentra-se na gradual e divertida empatia que surge entre os brutos algozes e o erudito sequestrado.

Reside nos contrastes amigáveis, principalmente com Michel dando dicas sobre literatura e o fisiculturista ensinando o poeta a lutar, o grande trunfo do filme. Há ainda discussões sobre paternidade, a identidade da Polônia, e a entrada em cena dos pais dos seqüestradores, sem contar a festa de aniversário feita por eles para Michel, regada a muito vinho e um lindo presente chamado Fátima, de 21 anos.

Com uma estética que remete a um registro documental, deixando tudo ainda mais próximo do espectador, “L’Enlèvement de Michel…” é uma preciosidade quase impossível de não se envolver graças a uma bela amizade que nasce do improvável.

Cena de “L’Enlèvement de Michel Houellebecq”

Outro titulo curioso que compete por aqui é “Mary is Happy, Mary is Happy!”, do jovem tailandês Nawapol Thamrongrattanarit, 30 anos. Apesar de sua proposta original – o filme anuncia-se como uma adaptação feita de 410 twitters postados em sequencia por uma menina -, seu resultado não configura-se consistente.

Se a estrutura quebradiça da narrativa busca uma identificação visual imediata com os posts da menina – que aparecem na tela a medida em que a trama avança -, ela também fragmenta em excesso os contextos do filme, tornando difícil sua fluidez e resultando numa fadiga rápida.

CURADORIA – O 3o Olhar reuniu ontem seis craques em curadoria de festivais de cinema para responderem a pergunta: Quais os festivais mais interessantes para se colocar um filme hoje? Responderam Eduardo Valente (Ancine), Agnes Wildenstein (DocLisboa), Andrea Stavenhaagen (Guadalajara), Bettina Steinbrugge (Berlim), Charlene Dinhut (Centro Pompidou) e Diego Lerer (Fipresci-Argentina).

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