A tela como gramado
Já que é Copa do Mundo no Brasil…
Por Luiz Joaquim | 15.06.2014 (domingo)
Se é o País do futebol, por que não o vemos representando no cinema brasileiro? É uma pergunta que intriga muita gente que trabalha e estuda a produção audiovisual nacional. Walter Salles, por exemplo, dedicou suas palavras a um artigo sobre o tema em plena Copa do Mundo de 2002, ano da conquista do pentacampeonato da Canarinha na Coréia/Japão.
Com o título “Cinema e Futebol”, publicado no jornal Folha de S. Paulo, o diretor de “Central do Brasil” (1998) tentava responder o porquê do futebol ser “tão pouco contemplado pelo cinema de ficção se o esporte concentra a tensão e o conflito necessários a toda narrativa cinematográfica”. E ele mesmo concluía: “Difícil responder. A multiplicação e consequente banalização dos jogos na TV pode ser parte da explicação”.
Não por acaso, o próprio Salles viria a fazer, seis anos depois, seu “Linha de Passe” (2008). Resultou num dos poucos exemplares que conseguiu aproveita essa “tensão” dentro e fora do campo para ilustrar a vida de uma família suburbana paulistana. Seu esforço rendeu a Palma de melhor atriz para Sandra Corveloni no Festival de Cannes, cuja personagem, fissurada pelo Corinthians e mãe solteira, vê em um de seus quatro filhos a chance de ascender socialmente pelo futebol profissional.
Para muitos, até hoje o filme definitivo que conseguiu melhor traduzir para a tela a relação apaixonada do brasileiro pelo futebol foi “Garrincha, Alegria do Povo” (1963), feito por Joaquim Pedro de Andrade. O cineasta tocou a produção sob influência do então nascente “Cinema Direto” norte-americano e o Cinéma Vérité francês. Joaquim Pedro fez então o primeiro documentário nacional sobre um esportista. Tendo a época uma recepção divida pela crítica, o filme tinha tido um pouco antes uma outra referência nos cinemas.
Era o filme “Rei Pelé” (1962), o primeiro feito sob o ídolo mundial. Dirigido pelo argentino Carlos Hugo Christensen, o filme era já uma espécie de híbrido entre documentário e ficção. O enredo – baseado no livro “Eu Sou Pelé” com coautoria de Benedito Ruy Barbosa – trazia diálogos escritos por Nélson Rodrigues, que aparece no filme como ele mesmo, e narração de Lima Duarte. A dramatizava da vida de Pelé desde sua infância foi interpretada por atores e pelo próprio na vida adulta. Podia-se ver também a mãe e o irmão do Rei do Futebol. Seu pai só não aceitou interpretar a si mesmo por timidez.
À produção destes dois tesouros envolvendo cinema e futebol deve-se o entusiasmo do momento vivido no Brasil em 1962, ano em que se comemorava a inédita vitória de um bicampeonato (e ainda consecutiva) na Copa da Fifa.
Mais de quatro décadas depois, o Atleta do Século 20 ganhou uma bela homenagem de Aníbal Massaíni Neto no documentário “Pelé Eterno” (2004) sobre toda sua carreira. Pelé também esteve nas telas exclusivamente como ator. Apareceu assim nos estrangeiros “Fuga para a Vitória” (1981), de John Huston, “A Vitória do Mais Fraco” (1983), de Terrell Tannen, e “Hotshot” (1987), de Rick King. No Brasil, seu maior desafio atuando foi em “Os Trombadinhas” (1979), de Anselmo Duarte. Esteve também ao lado de Didi Mocó e sua turma em “Os Trapalhões e O Rei do Futebol” (1986), de Carlos Manga.
Outro craque convocado a atuar no cinema foi o Galinho de Quintino, fazendo graça na comédia infantil “Uma Aventura com Zico” (1999), sob direção de Antônio Carlos da Fontoura. Três anos depois, o ídolo do Flamengo e da Seleção Brasileira teria sua carreira contada no documentário “Zico” (2002), de Elizeu Ewald.
Ainda no campo do documentário, a própria Copa do Mundo ganhou uma produção a seu respeito. Tendo sido dirigido sob encomenda por Murilo Salles, “Todos os Corações do Mundo” (1995) registrou a movimentação no ano anterior durante o campeonato nos EUA que, para a sorte do cineasta, viu a Canarinha ser tetracampeã.
No campo da dramaturgia, além de “Linha de Passe”, pode-se contar na mão as obras no Brasil que buscaram conquistar o espectador tendo o futebol como pano de fundo. Lá nos anos 1980 encontramos “Asa Branca: Um Sonho Brasileiro”, de Djalma Limongi Batista com o “jogador” Edson Celulari, e os divertidos “Boleiros” (1998) e sua sequência (em 2006), ambos de Ugo Giorgetti.
E numa época em que as comédias nacionais dominam as bilheterias, temos ao menos um exemplar que se arriscou pela graça do futebol. Foi “O Casamento de Romeu e Julieta”, quando Bruno Barreto criou a situação da união amorosa entre uma palmeirense (Luana Piovani) e um corintiano (Marco Ricca). E a ousadia de Barreto pode ser considerada um sucesso de bilheteria uma vez que levou quase 900 mil espectadores aos cinemas.
O último rebento desse gênero nasceu em 2013 e veio do interior de Pernambuco. Nasceu das mãos de Taciano Valério ao contar aqui a saga do fictício Ferrolho (Paulo Philippe) – bandido que dá nome ao filme – e se divide entre tocar o terror em Caruaru e torcer fervorosamente pelo Central Sport Club. Um primor.
INÍCIO – O cinema brasileiro começou a dar atenção ao futebol já nos anos 1930, quando “Campeões de Futebol” (1932), de Genésio Arruda, e “Futebol em Família” (1938), de Rui Costa, foram ambos vistos por milhares de espectadores.
PELÉ – Pelé terá sua vida contado em um novo filme de produção estrangeira. A ideia é que apresente sua infância e adolescência, chegando até glória da Copa do Mundo de 1958. Quem dirigirá o drama, com nome provisório de “Pelé”, serão os irmãos Jeff e Michael Zimbalist. O elenco conta com Rodrigo Santoro, Vicent D Onofrio, Seu Jorge, Milton Gonçalves. Kevin de Paula fará o Rei em uma de suas fases.
0 Comentários