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Reportagens

Festivais de cinema na berlinda

Olhar de Cinema, em Curitiba, reúniu especialistas estrangeiros

Por Luiz Joaquim | 24.06.2014 (terça-feira)

Os festivais de cinema. São tantos hoje em dia espalhados pelo mundo, e em sua maioria tão descontrolados em suas propostas, que os próprios eventos do gênero já começam a procurar respostas para algumas questões neste cenário cada vez pautado pelo excesso, repetição e mesmo esgotamento de ideias. A exemplo dessa preocupação, um festival caçula no Brasil, mas já com espírito adulto – o Olhar de Cinema de Curitiba, cuja terceira edição encerrou no último dia 5 -, trouxe especialistas da França, México e Argentina para participar do seminário “Curadoria em festivais” e discutir esse universo cada vez mais comercial e menos artístico, além de como os cineasta se relacionam com ele.

Algumas das questões que surgiram na mesa mediada por Eduardo Valente, assessor internacional da Ancine, giraram em torno de indagações como: Quais os festivais que podem ser identificado como lançadores de novos talentos? Como o sucesso dos filmes nos chamados “festivais autorais” pode lhe gerar frutos ao serem lançados no mercado? Haveria um perfil especifico para cada um destes festivais?

Para Agnès Wildenstein – que por 12 anos integrou o comitê curatorial do Festival de Locarno (Suíça) e hoje trabalha no DocLisbo – alguns filmes que exibem em festivais como estes dois podem nunca chegar ao mercado. “Mas estes filmes de realizadores estreantes serão vistos e comentados por muitos críticos sérios”. Para ela não há formula para fazer filmes que agradem a um ou outro festival específico. O melhor mesmo para o cineasta aspirante é estudar e ver filmes “muitos e muitos filmes”, diz.

Sobre o trabalho de um curador de cinema, a francesa explica que “além de ver milhares de filmes, é muito importante viajar para conhecer pessoas, conhecer os públicos, e principalmente sentir os países onde os filmes foram feitos e onde os festivais serão realizados”. Para ela, “não há nada como ver filmes em salas de cinemas e nos países de origem do realizador”.

Já Andrea Stavenhagen, do Festival de San Sebastián (Espanha), alerta que um curador não pode “ficar esperando que os filmes cheguem. É necessário buscá-los, pesquisar muito e, inclusive, conhecer os vários laboratórios regionais que se espalham pela América Latina”. Para o argentino Diego Lerer, é lamentável que países como o México e o Brasil, além de o seu próprio, produzam mais de 100 filmes ao ano e apenas uma dezena de todos estes valem um registro como boas obras.

E revelou: “Muitos cineastas argentinos dependem de festivais internacionais. Alguns trabalham já pensando em agradar sessões específicas de festivais específicos. Para estes, estar num festival internacional é mais importante que o filme em si”.

Divertindo os ouvintes, o também argentino Roger Koza – que já selecionou filmes latinos para festivais na Alemanha e México – conta que quando procura um obra observa a “especificidade universal que existe em cada filme”. E explica: “Quero mostrar que o cinema não é apenas entretenimento, mas uma forma de conhecimento. Observo os filmes que fogem totalmente ao convencional. Que surpreendem o espectador, e lhe faz pensar assim: -o diretor desse filme é louco, ou existe novas formas de vínculo entre o cinema atual e o do passado”. E concluiu: “Quando um programador vira um burocrata, perde sua razão de ser”.

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