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Críticas

Jersey Boys: Em Busca da Música

Novo filme de Clint Eastwood fala sobre grupo musical dos anos 1960

Por Luiz Joaquim | 26.06.2014 (quinta-feira)

É bem provável que o leitor conheça a canção romântica “Can t take my eyes off you”. Uma melodia que, desde sua criação, nos anos 1960, até hoje se escuta no rádio, seja no formato original ou renovada a cada novo gênero musical – disco, eletrônica, forró, etc. Talvez o leitor não conheça a origem de seu grupo criador, o quarteto The Four Seasons, de New Jersey (EUA). É essa a história que o jovem senhor Clint Eastwood, aos 84 anos, se propõe a contar pelo roteiro de Marshall Brickman e Rick Elice – adaptado de um musical da Broadway – para o filme “Jersey Boys: Em Busca da Música” (The Four Seasons, EUA, 2014).

Seguindo o formato estrutural que se vê em filmes como “Os Bons Companheiros” (1990), de Martin Scorsese, este novo Eastwood concentra seu interesse mais na origem e formação do grupo lá nos anos 1950. Eles vêm de um espaço social sofrido, com a consciência de que dali sairiam apenas se mudassem de endereço, ou virassem artistas – ou se integrassem à máfia. No caso dos garotos Frankie Valli (John Lloyd Young), Tommy (Vincent Piazza), Bob Gaudio (Erich Bergen) e Nick Massi (Michael Lomenda), as duas últimas condições se somaram para eles se tornarem “The Four Seasons”.

E é neste universo que o poderoso chefão da área, Gyp (Christopher Walken), dá um empurrãozinho aos jovens aspirantes ao ouvir numa apresentação a potência peculiar da voz de Frankie cantando “My mother s eyes”.

Como estratégia para fazer de nós, espectadores, quase um quinto integrante da banda ainda em formação, Eastwood não poupa o recurso de, em quatro momentos distintos da narrativa, pôr os personagens falando direto para a câmera. Nos dizendo, quase como um segredo, o ponto de vista de cada um deles sobre o que está levando o grupo para cima ou para baixo.

Mesmo sem fugir das habituais tensões de filmes cujo enredo se ergue pelas dificuldades da formação de uma banda musical – “Backbeat: Os 5 Rapazes de Liverpool”, “Control” -, “Jersey Boys” consegue ter uma personalidade bem particular. Ou seja, estão lá a insistência na construção de um sonho; os conflitos internos e os egos alterados do talentoso Frankie, do estourado Tommy, do disciplinado Gaudio e do paciente Nick quando atingem o sucesso.

Além disso, há uma combinação de ótimas performances musicais de hits como “Bye, Bye, Baby”, “Sherry”, “Big Girls Don t Cry” e “Walk Like A Man”, que nos fazem bater o pé acompanhado o ritmo do filme. Ao carisma da obra, soma-se um outro condimento. Este bem particular que, provavelmente, não estaria em “Jersey Boys” se o filme tivesse sido dirigido por alguém que não vivenciou na pele aquela época.

Neste sentido, Eastwood parece domar muito bem a forma como ele quer apresentar aquele ambiente de mais de meio século atrás. Parece até emprestar sua própria personalidade ao modo como o quarteto percebe o circo em torno de um inicial sucesso. O maior exemplo está em dos momentos mais explicitamente cômicos do título, quando Frankie, Tommy, Gaudio e Nick participam de uma festa de grã-finos em Nova York. Ainda com o pé na origem simples, os garotos espantam-se com os excessos e as bobagens dos ricos, assim como talvez o então jovem ator Eastwood da época também tenha testemunhado e se divertido.

REFERÊNCIAS – Em “Jersey Boys: Em Busca da Música” o personagem de Erich Bergen (Gaudio, o compositor do grupo) aparece como um fã de cinema. É enquanto ele vê “A montanha dos 7 Abutres” (1951) pela tevê que surge a ideia para compor “Walk like a man”.

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