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Clássicos

Nova vida a -Limite-

Versão restaurada do filme silencioso mais famoso do País

Por Luiz Joaquim | 10.06.2014 (terça-feira)

Não é tão raro quanto testemunhar uma Copa do Mundo de futebol no Brasil, mas a exibição numa sala de cinema do filme “Limite”, obra-prima absoluta brasileira dirigida por Mário Peixoto aos 23 anos em 1931, não pode ser descartada como a oportunidade valiosa que é. Numa sessão com entrada franca, às 20h30 de hoje, toda uma nova geração poderá ver no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco uma versão restaurada do filme que intrigou a crítica brasileira por décadas, fazendo com que, por cerca de 40 anos, alguns duvidassem até que o filme realmente existisse.

A sessão de hoje acontece por intermédio do projeto “Rede de Cinemas”. Oriundo de uma parceria entre os Ministérios da Cultura e de Ciência, Tecnologia e Inovação, com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) – o projeto acontece nas segundas terças-feiras de cada mês, possibilitando que conteúdo de cada uma das instituições participantes possam ser compartilhados e exibidos simultaneamente nas salas da Rede. Além do Cinema da Fundação no Recife participam em São Paulo a Cinemateca Brasileira e a CINUSP Escola de Comunicações e Artes; em Salvador a Sala de Arte da Universidade Federal da Bahia, e em Porto Alegre a Sala Redenção: Cinema Universitário

A primeira restauração de “Limite” foi feita por Plínio Süssekind Rocha e Saulo Pereira de Mello no início dos anos 1960 e ficou pronta apenas em 1977. A película de 35 mm de base de nitrato tinha encolhido e estava perigosamente entrando em decomposição química – uma pequena parte se perdeu mas dela restaram sete fotogramas que foram incluídos na restauração posterior. Esta passou por um tratamente que durou mais de cinco anos, sendo finalizada em 2007 sob a supervisão de Pereira de Mello, diretor do Arquivo Mário Peixoto, com o apoio da Cinemateca Brasileira, Funarte, VideoFilmes e do Arquivo Mário Peixoto.

A versão que será vista hoje nasceu de um novo interpositivo e um novo internegativo que foram criados por Patricia de Filippi na Cinemateca Brasileira, a partir do primeiro negativo contratipo realizado na primeira restauração do filme. Ao mesmo tempo, o som do filme foi remixado com os discos originais e a imagem passada de 16 para 24 quadros por segundo. Os enquadramentos foram preservados.

Durante o processo a rede cultural francesa “Arte” juntou-se ao projeto e gerou a possibilidade da digitalização da imagem com qualidade 2K. O trabalho possibilitou que alguns danos na imagem, como riscos, fossem corrigidos. E com o apoio da World Cinema Foundation aconteceu a última etapa do processo de restauração de “Limite”: a criação de um novo negativo em 35mm a partir da imagem 2K.

O resultado é que “Limite” começou a voltar a circular nos cinemas já em 2007, tendo participado naquele ano da 60º edição do Festival de Cannes no programa “Classics”. Passou depois na rede cultural “Arte” e também no “National Film Theater”, do British Film Institute. Hoje o “novo Limite” chega ao Recife para, mais uma vez, deixar atônitos tanto uma nova geração que nunca teve acesso ao desvairio cinematográfico de Peixoto, quanto a velha geração que ainda hoje tenta compreendê-lo.

ENREDO – Em um pequeno barco à deriva, duas mulheres e um homem relembram seu passado recente. Uma das mulheres escapou da prisão; a outra estava desesperada; e o homem tinha perdido sua amante. Cansados, eles param de remar e se conformam com a morte, relembrando as situações de seu passado. Eles não têm mais força ou desejo de viver e atingiram o limite de suas existências.

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