Transcendence: A Revolução
A tecnologia onipresente e onisciente
Por Luiz Joaquim | 19.06.2014 (quinta-feira)
Não devemos minimizar a inventividade de Jack Plagen, que criou o roteiro original para “Transcendence: A Revolução” (Transcendence, EUA, 2014), o filme de estreia na direção do aclamado diretor de fotografia Wally Pfister – parceiro de Christopher Nolan que, à propósito, produz esta obra.
Fazendo o que Hollywood costuma fazer bem, este seu novo produto ficcionaliza uma ciência futurista pela qual não há limites para a Inteligência Artificial (AI). Logo na abertura, Plagen nos situa cinco anos adiante, quando não há mais internet nem aparelhos informatizados em uso, o que implica na ausência de telefonia e eletricidade, resultando num mundo praticamente devastado, como se tivéssemos voltado ao século 19 mas com as dependências do 21.
É pelo cientista Max (Paul Bettany) que vamos entender o começo de tudo, cinco anos antes, quando os colegas Will (Johnny Depp) e sua esposa Evelyn (Rebecca Hall, de “Vicky, Cristina, Barcelona”), buscavam recursos para o desenvolvimento de um sistema operacional de AI com poderes de autoconsciência, ou, pelas palavras de Will, de transcendência.
Pela “transcendência”, tal sistema seria imbatível em resolver problemas hoje insolúveis pela limitação da inteligência humana, como a cura do câncer ou a saúde do planeta. Mas, apesar do sedutor conceito, um violento grupo de manifestantes, os “Desplugados”, impedem que Will siga adiante. O projeto ganha, entretanto, um salto quando Evelyn consegue transferir, ou na linguagem técnica, fazer um upload da consciência de Will para o sistema.
O que Evelyn não poderia prever é que, uma vez conetado à internet, o sistema com a consciência de seu marido (mas sem o discernimento entre o ético ou anti-ético, moral ou amoral) tornaria cada vez mais tirânico e ameaçador ao mundo. É daí que surge todo o conflito em “Transcendente”, próprio das ações hollywoodiana.
Partindo para o interesse na ação desenfreada tanto o roteiro de Plagen quanto a direção de Pfister acaba criando buracos e por eles vai perdendo sua credibilidade, passando da categoria de uma ficção-científica A para B.
Enquanto se concentra nos assuntos que dizem respeito ao relacionamento do homem com as máquinas e elas modificando o comportamento dos próprios homens, “Transcendence” soa interessante, conseguindo projetar para o futuro, de maneira superdimensionada, um conflito que já existe hoje – só que em proporção menor e ainda controlável – que é a a total submissão, inclusive de nossa privacidade e intimidade, a uma máquina mundialmente conectada.
Felizmente, por sua opção final, “Transcendence” dá o recado de que errar é preciso, pois é por aí que se configura a identidade humana.
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