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Festivais

6º Paulínia (2014) – dia 1

Cinebiografia de Paulo Coelho abre o evento

Por Luiz Joaquim | 22.07.2014 (terça-feira)

Com pouco margem de erro, é correto afirmar que até 2016 o leitor ainda estará sendo alimentado com notícias sobre o que as linha aqui abaixo já irão adiantar. Tratamos dos filmes “Sangue Azul”, de Lírio Ferreira, e “A História da Eternidade”, de Camilo Cavalcante. Ambos trabalhos têm suapremiere acontecendo no Brasil esta semana, no 6º Festival de Cinema Paulínia; evento que segue até domingo no município situado a 120 quilômetros da capital paulista.

Em meio a habitual agitação própria por trás da produção de um longa-metragem prestes a nascer para o mundo, Lírio Ferreira falou ontem de São Paulo com a Folha de Pernambuco. Lá, ele concluía a confecção do arquivo digital no formato DCP de “Sangue Azul” para, ainda no mesmo dia, fazer sua primeira exibição teste.

“Definir o festival onde seu filme vai estrear está sempre vinculado a esta correria da produção. -Sangue Azul- não poderia ter ficado pronto para entrar em nenhum outro antes de Paulínia. E é um festival que venho acompanhando sua evolução. Já selecionou filmes que admiro”, comenta.

Tendo seu argumento surgido há seis anos, o projeto “Sangue Azul” é bastante caro ao co-diretor de “O Baile Perfumado”. Lírio lembra que ao retornar da primeira visita de pesquisa que fez em 2008 a Fernando de Noronha – onde o filme foi rodado – ele estava com os co-roteiristas Sérgio Oliveira e Fellipe Barbosa (este último também com um filme competindo em Paulínia – -Casa Grande-), e todos tinham muito claro que a história teria de ser inteiramente rodada no arquipélago.

“Do ponto de vista da produção, isto é uma loucura, tudo é muito caro e a logística para tocar cinco semanas de filmagens ali foi bem difícil. Houve quem sugerisse que filmássemos apenas as cenas externas na ilha e que as internas fossem feitas num estúdio. Mas não queria cortar a atmosfera própria do lugar. As pessoas chamam de -neuronha- aquela sensação de quem passa muito tempo ali. Eu queria que isso de alguma forma contaminasse o elenco”, revela.

A ilha, à propósito, nunca é explicitamente definida no enredo como do arquipélago Fernando de Noronha. “A história poderia ser em qualquer ilha, mas Noronha terminou virando um personagem com a Praia da Conceição e o Morro do Pico fazendo pontuações dramáticas no enredo. E não mostramos lugares necessariamente turísticos, mas aqueles em que o dia-a-dia é mais vivido realmente por lá”.

Na sinopse oficial de “Sangue Azul”, um artista de circo volta 20 anos depois a uma ilha vulcânica com sua trupe e lá reencontra sua mãe e irmã, de quem foi separado aos dez anos de idade por receio de uma relação incestuosa. Mas Lírio prefere resumir que seu mais novo rebento diz respeito ao “amor, ao circo e a impossibilidade de amar”.

Camilo Cavalcante recorre também o amor para falar de sua estreia na direção de um longa. “Nosso tema é a força mais poderosa do universo”, contou ontem por telefone de Petrolina, onde toca um trabalho institucional.

Camilo deve ir a Paulínia apenas no dia de sua exibição. Ao seu lado estarão Irandhir Santos, Claudio Jaborandy, Zezita Matos, Débora Ingrid e Leonardo França como parte do elenco. “Estava louco para mostrar o filme no Brasil, e fico contente com a seleção em Paulínia. É uma programação eclética, com filmes de veteranos, como Domingos Oliveira e Murilo Sales, e gente nova como eu e Juliana Rojas”, adiantou.

Ao contrário de “Sangue Azul”, “A História da Eternidade”, o filme, já está pronto há algumas meses. Ele nasceu para o mundo no final de janeiro último, no Festival de Roterdã (Holanda). “Todas as sessões por lá foram emocionantes. A platéia, predominantemente holandesa, sempre se emocionava. Lembro de uma senhor que, ainda durante os créditos finais, veio me agradecer com os olhos cheios de lágrimas”, recorda Camilo.

De fato, o filme provocou empatia entre a plateia O sucesso fez dele o 16º filme preferido pelo público numa lista de 199 em votação. “Nessa marcação, ele ficou como o melhor filme latino americano escolhido pelo voto popular”, reforça seu diretor. “Pela repercussão, houve quem comparasse o filme com -Kaos- (1984), dos Irmão Taviani”, pontua.

“A História da Eternidade” se passa no interior de Pernambuco, onde três mulheres de gerações diferentes expressam alguns desejos e desespero a partir da praça central do pequeno município onde residem. Para Camilo, ter o filme em Paulínia será uma ótima maneira de introduzir esse contexto local para o resto do Brasil.

Em busca da internacionalização
Após dois anos em modo de suspensão de sua configuração original o Festival de Cinema de Paulínia dá partida hoje a sua 6ª e mais rebuscada edição. Após uma homenagem aos 25 anos da distribuidora Imovision, o evento programou para logo mais na cerimônia de abertura o lançamento nacional da dramatização dirigida por Daniel Augusto “Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho”. Além da tradicional mostra competitiva nacional – com nove longas-metragens, oito curtas -, uma novidade: o evento inclui pela primeira vez uma seleção de títulos estrangeiros com seus respectivos cineastas e estrelas presentes no festival.

Entre os convidados, aparecem Jacqueline Bisset e Abel Ferrara, do filme “Bem-Vindo a Nova York”; Mathéo Boisselier, de “As Férias do Pequeno Nicolau”; Tony Gatlif e Delphine Mantoulet, de “Geronimo”; Hiam Abbas, de “O Casamento de May”; e Georges Gachot, de “O Samba”.

“Quando nasceu, o festival tinha a intenção de incluir filmes estrangeiros”, resgata o diretor do festival, Ivan Melo. “Mas naquele momento tínhamos de nos firmar, de fortalecer nossa relação com o cinema brasileiro. Agora é uma boa hora para darmos um passo mais longo. Essa atual configuração incluindo os estrangeiros é fruto do que já foi construído”.

Ivan lembra ainda que o festival é apenas um pequeno pedaço do polo cinematográfico de Paulínia, e trazer realizadores do exterior é também uma forma de apresentar a eles o que o polo tem a oferecer. “Queremos mostrar que nossos estúdios estão prontos para receber projetos interessados em coprodução, prevendo filmagens na América Latina”, contextualiza.

Hoje sendo realizado ao custo de R$ 3,5 milhões oriundos dos cofres da prefeitura de Paulínia, o festival pode crescer no ano seguinte. O diretor do festival conta que a intenção é correr atrás de mais recursos para incrementar essa relação com produtores internacionais. “Mesmo assim, não nos vejo fazendo uma competição internacional no festival. Nossa intenção, exibindo estes filmes, é cobrir uma lacuna da região, dando espaço a obras bacanas de todas as partes do mundo que não chegam por aqui. Nosso foco na competição continua sendo a produção brasileira”, adianta.

Competindo este ano com Lírio Ferreira e Camilo Cavalcante, estão os longas “Aprendi a Jogar com Você”, de Murilo Salles (Doc, RJ); “Boa Sorte”, de Carolina Jabor (Ficção, RJ); “Casa Grande”, de Fellipe Barbosa (Ficção, RJ); “Castanha, de David Pretto” (Ficção, RS); “Infância”, de Domingos Oliveira (Ficção, RJ); “Neblina”, de Fernanda Machado e Daniel Pátaro (Doc, SP/Paulínia); “Sinfonia da Necrópole”, de Juliana Rojas (Ficção, SP).

Já na mostra competitiva de curtas estão “De Bom Tamanho”, de Alex Vidigal (Ficção, BSB); “Edifício Tatuapé Mahal”, de Carolina Markowicz e Fernanda Salloum (Animação, SP); “Jessy”, de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge (Doc, BA); “190”, de Germano Pereira (Ficção, SP); “O Clube”, de Allan Ribeiro (Ficção, RJ); “O Bom Comportamento”, de Eva Randolph (Ficção, RJ); “O Menino Que Sabia Voar”, de Douglas Alves Ferreira (Animação, SP); “Recordação”, de Marcelo Galvão (Ficção, SP).

EM LOCARNO – Camilo Cavalcante está comemorando duplamente. Além da participação em Paulínia, celebra a recente seleção, entre sete projetos do Brasil, na Carte Blache do 67ª Festival de Cinema de Locarno (Suíça). O evento é dedicada à exibição de obras na fase de pós-produção realizadas por talentos emergentes de países da América Latina, África, Ásia e da região dos Balcãs. Camilo participa com “Beco”, projeto documental em desenvolvimento que defenderá para tentar conquistar o prêmio de R$ 10 mil francos suíços.

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