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Festivais

6o Paulinia (2014) – noite 2

Dançando sobre catacumbas

Por Luiz Joaquim | 25.07.2014 (sexta-feira)

PAULINIA (SP) – Não é sempre que um jovem talento surge com tanta clareza no cinema brasileiro e se apresenta à nós deixando tantas convicções de sua competência, como é o caso do trabalho da paulista Juliana Rojas, 33 anos.

Na quarta-feira, primeira dia da mostra competitiva do 6o Festival de Cinema de Paulínia, o principal longa-metragem concorrente da noite era a ficção “Sinfonia da Necrópole”: primeira incursão solo de Rojas conduzindo um longa.

Referendada pelas premiadas obras da produtora Filmes do Caixote, quando ora está a frente como co-diretora ou montadora de filmes como “Trabalhar Cansa” (com Marco Dutra, premiado em Cannes) e “Quando eu Era Vivo” (de Marco Dutra), Rojas agora assina sozinha esta história delicada – pelo respeito à morte e, por conseqüência, à vida –; além de cativante e original – pela competência cinematográfica.

Para começar, basta saber que se trata de um musical num cemitério. Lá Deodato (Eduardo Gomes) começa a trabalhar como aprendiz de coveiro e, pela total falta de aptidão para a função, acaba designado para ajudar a prestadora de serviço Jaqueline (a ótima Luciana Paes), que irá mapear e recadastrar os túmulos abandonados.

Eles irão fazer um reforma no cemitério, deixando-o com novos túmulos, agora verticalizados como a própria São Paulo, que aparece ao fundo. Tudo isso contra a vontade de Deodato, que vê na ação um sacrilégio perigoso.

O tímido e pobre Deodato se apaixona pela sofisticada profissional que é Jaqueline, e vemos o desenrolar do romance impossível, além de eventos sobrenaturais, ao som do elenco cantando cerca de seis números musicais embalado por pás, vassouras, ossos e qualquer outra objeto que possa virar um instrumento de som num cemitério.

Uma ou outra canção escrita por Rojas com Dutra e Ramiro Murilo são tão boas, e sonoramente bem arranjadas, que podem agradar sozinhas, mesmo fora do contexto do filme. É o caso da cantada pelo casal no carro do IML, com impressionante condução de fotografia e montagem, dando fluência mesmo com tão poucas possibilidades de enquadramentos.

Apresentando o filme a platéia de Paulínia, Rojas emocionou-se ao lembrar do pai falecido no início deste ano.

A quarta-feira também viu os longas documentais concorrentes: “Aprendi a Jogar com Você”, de Murilo Sales; e “Neblina”, de Daniel Pátaro e Fernanda Machado. O primeiro faz parte de um projeto televisivo “És Tu, Brasil 2” – cujo primeiro filme “Passarinho lá de Nova York” exibiu na Mostra de Tiradentes.

Assim com em “Passarinho…”, no novo projeto Murilo foca sua lente para um cidadão comum, e seu interesse é mostrar a capacidade do brasileiro de, nas suas palavras, “se virar” para viver.

No caso, a câmera de Murilo acompanha a família do DJ Duda, que vive em Samambaia, uma das cidades satélites de Brasília, enquanto tentam toda sorte de empreendimento para se sustentar no mercado da música na periferia.

Já em “Neblina”, sobre a vila paulista de Paranapiacaba – que foi fundamental no século 19 para o desenvolvimento de São Paulo em função da ferrovia que ligava o Porto de Santos até o Alto da Serra -, temos um filme confuso.

Ora traz informações da condição atual da região com depoimentos de sua população, ora apresentar ricas (mas desordenadas) imagens de arquivos para ilustrar um texto que busca referencias na história universal para explicar o abandono do local.

*Viagem a convite do Festival

FICÇAO – Murilo Sales adiantou em Paulínia adiantou que sua nova ficção, “Os Fins e Os Meios”. O thriller político em finalização é estrelado por Hermila Guedes, Marco Rica e tem participação especial de Hermiliano Queiroz. A previsão de estreia é 16 de outubro próximo.

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