Ariano nos deixa
Um Brasil menos armorial
Por Luiz Joaquim | 24.07.2014 (quinta-feira)
O universo fabular criado pelo mestre Ariano Suassuna sempre foi bastante sedutor ao cinema. Não podia ser diferente uma vez que sua literatura vinha invariavelmente ilustrada por personagens ricos, fortes e curiosos. Sem falar nos ambientes, também inspiradores, onde os “causos” se desenrolavam. Tudo isso soava muito atraente para os profissionais cujo lógica funciona pela combinação entre áudio e a imagem.
Ao mesmo tempo, peculiaridades tão particular deste universo raramente ganhavam um relativo à altura para a linguagem do cinema ou da tevê. A primeira experiência surgiu em 1969, com a então “namoradinha do Brasil”, Regina Duarte, na pele da Compadecida, personagem da peça “O Auto da Compadecida” (criado por Ariano em 1955.
Dirigido pelo húngaro George Jonas, o filme que trazia Armando Bogus como João Grilo e Antônio Fagundes como Chicó, não foi exatamente um sucesso. Mesmo assim, sofreu com a censura militar para ser exibidos nos cinemas.
Quase 20 anos depois, com o a sociedade e o cinema brasileiro vivendo um nova realidade, a trupe de Os Trapalhões, que vinha da década de 1970 como os grandes campões de bilheteria no Brasil, resgataram as aventuras dos amigos João Grilo e Chicó, agora vividos por Renato Aragão e Dedé Santana.
Sob direção do experiênte Roberto Farias, o filme não foi um fracasso mas, apesar dos 2,6 milhões de espectadores, o resultado foi discreto perto das outras performances de Os Trapalhões no cinema.
Casou de acontecer pelas mãos de um outro nordestino, o realizador Guel Arraes, a mais adequada e aprovada adaptação da aclamada peça para o meio audiovisual. O projeto “O Auto da Compadecida”, em 2000, tornou-se um caso muito particular na história da relação entre cinema e tevê no Brasil.
Criado originalmente como uma minissérie em quatro capítulos, que foi levada ao ar em janeiro de 1999 pela TV Globo, o trabalho ganhou uma nova edição sintética, para chegar aos cinemas em setembro de 2000. Apesar dos 2,1 milhões de espectadores estarem abaixo do número feito pelos Trapalhões, o sucesso foi maior, considerando que naquele ano o mercado do cinema brasileiro ainda se reestruturava do trauma geraldo pelo governo Collor; e que “O Auto…” de Guel Arraes já havia sido exibido na tevê.
Curiosidade – A edição de 24/06/1969 do “Jornal do Commercio” do Rio de Janeiro trazia informações sobre a proibição de “A Compadecida” nos cinemas. A nota dizia: “Não mais irá estrear, como estava previsto, na segunda quinzena de julho próximo, no Recife, o filme intitulado “A Compadecida”…. A representação da peça foi proibida, em todo território nacional, por ato do Serviço de Censura Federal, sob acusação de anticlericarismo”. Ariano, por sua vez estranhou a decisão, lembrando que “padres, frades, bispos e outros religiosos se pronunciaram de modo favorável ao trabalho, desconhecendo assim os aspectos anticlericais apontados pelos censores”.
E na televisão
Quando Luiz Fernando Carvalho veio ao Recife em 2001 lançar seu longa-metragem “Lavoura Arcaica”, adaptado do livro de Raduan Nassar, o diretor fez questão da presença do mestre Ariano Suassuana no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, onde o filme foi lançado. Carvalho já era um grande admirador da obra de escritor paraibano quando fez a primeira adequação para a tevê de um peça de Ariano.
Foi em 1994, que os telespectadores brasileiros receberam em suas casas o especial “Uma Mulher Vestida de Sol”. O texto, escrito em 1947, foi a primeira peça teatral do autor que a criou pensando num concurso promovido pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Na telinha a protagonista foi vivida pela atriz Tereza Seiblitz, e a personagem Dorothy foi defendida por atriz Miriam Rios.
Foi também Carvalho o responsável pela audaciosa microssérie “A Pedra do Reino”, feita a partir do romance “O Romance dA Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, de 1971. Indo ao ar em junho de 2007, o trabalho também homenageava os 80 anos do autor.
Elogiado entre os críticos pelo requinte do texto, da direção de arte, fotografia, cenários e performances, a produção também virou referência na televisão brasileira, ganhando diversos prêmios. No papel de Quaderna estava o ator pernambucano Irandhir Santos.
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