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Reportagens

Gremlins – 30 anos

Nunca os alimente após a meia-noite

Por Luiz Joaquim | 15.07.2014 (terça-feira)

Quando estreou nos Estados Unidos, em 08 de junho de 1984 (no Brasil, 10/08/1984) nada garantiria que “Gremlins” (EUA) tornaria-se uma referência para as próximas três gerações de crianças como um inesquecível filme de natal. Mas havia ali dicas muito fortes. O filme foi produzido por Steven Spielberg, que um mês antes lançara o segundo Indiana Jones (“O Templo da Perdição”) e dois anos antes dera ao mundo a obra-prima “E.T.: O Extra-terrestre”. Teve direção de Joe Dante, conhecido pelo insólito “Piranha” (1978), e seu roteiro era assinado por Chris Columbos, que no ano seguinte escreveria “Os Goonies”.

É muito por conta destes talentos por trás da fábula do bichinho fofinho, o Gizmo que se alimentado após a meia-noite metamorfoseava-se em um Gremlin, hoje, 30 anos depois, ainda diverte com a mesma força daquela que se via quando nasceu.

Quase que de modo premonitório, há uma sequencia no enredo em que a mãe de Billy (Zach Galligan) assiste tevê enquanto trabalha na cozinha. Ela vê “A Felicidade Não se Compra” (1946) – filme obrigatório de natal, por excelência, realizado por Frank Capra quase quatro décadas antes daquele momento em que “Gremlins” nascia.

Apesar da proposta entre um e outro filme ser distinta, o espírito era o mesmo, ou seja, a época do natal era reservada para eventos extraordinários que mudariam a rotina de toda uma cidade americana; e que só voltaria à normalidade se seu protagonista reconhecesse suas responsabilidades.

No caso de “Gremlins”, o município era a pacata Kingston Fall onde morava o adolescente Billy. Sem jeito para conquistar a colega Kate (Phoebe Cates), Billy é o filho único de Rand (Hoyt Axton) um inventor cuja ideias malucas nunca dão certo. É ele que encontra um Mogwai, ou Gizmo, numa loja em Chinatown e o compra, contra a vontade de seu dono, para dar de presente ao filho.

O receio do velho dono da loja residia exatamente por conta da responsabilidade de ser ter um Mogwai, uma vez que três regras nunca podiam ser quebradas. As criaturinhas fofinhas nunca poderiam ser expostas a luz forte ou luz solar, que poderia matá-los; nunca poderiam ser molhados e, o principal, sob hipótese alguma podiam ser alimentados após a meia-noite. Mas acidentes acontecem e é da pior forma que Billy descobre que os Gizmos podiam virar pequenos diabinhos capazes até de matar.

SESSÃO DA TARDE – 30 anos depois “Gremlins” pode ser reconhecido como um clássico das sessões da tarde mas, curiosamente, ele não seria hoje mais uma referência que se encaixaria como um filme infantil. Em tempos politicamente corretos, a luta que Billy trava contra os monstrinhos seria vista como sanguinária demais.

Na batalha contra as centenas de gremlins que aterrorizam Kingston Fall, eles morrem picados em moedores de carne, ou são explodidos em microondas, ou ainda podem ser eletrocutados. De sua parte, os diabinhos descobrem armas e atiram para matar nos humanos, ou ainda pegam serras elétricas e partem para massacrar Billy.

Na verdade, são por estas e tantas outras ligações diretas com o cinema fantástico (Billy e Gizmo vêem na cama “Vampiros de Alma”, de 1956), o de horror, ou aos filmes B, e mesmo a clássicos infantis (numa sequência, os bichos badernam num cinema enquanto vêem “Branca de Neve e Os Sete Anões”) que a obra de Dante sempre enche os olhos quando é revista. Seja apenas para divertir, seja para lembrar que fábulas também podiam ser anárquicas.

Outros filmes – A fama de “Gremlins” garantiu-lhe uma sequência seis anos depois. Quem dirigiu o filme de 1990 – “Gremlins 2: A Nova Geração” – foi o mesmo Joe Dante, e trazia novamente Zach Galligan e Phoebe Cates no elenco mas, apesar de divertido, nunca alcançou o êxito do primeiro. A ação acontece dentro de um prédio onde os protagonistas trabalham.

Foi anunciado que um novo filme com os monstrinhos estaria em pré-produção com Chris Columbos na direção. O roteiro desta vez seria de Seth Grahame-Smith. A participação de Steven Spielberg na produção ainda é uma incógnita. Antes cogitado como uma refilmagem do original, sabe-se já que a produção deverá ser uma sequência.

Monstrinhos palpáveis
Próprio da cultura nos filmes fantásticos dos anos 1970/80 concebidos por Hollywood, a estrutura física dos “Gremlins” surgiu da união dos mais competentes técnicos em design, animação em stop motion, maquiagem e robótica da indústria do cinema.

Diferente das fábulas que vemos hoje nas telas, com cerca de 80% das cenas de ação geradas por efeitos CGI de computação gráfica, com atores contracenados sozinhos contra monstros virtuais sob um fundo verde, os Gizmos e os Gremlins eram concretos e palpáveis em escala real.

Desenhado por Chris Walas, até então responsável pela design das criaturas de “Piranhas” e “O Retorno de Jedi” (1983), os moldes dos Gremlins foram esculpidas por Tony McVey, tendo suas estruturas servido de referência para diversas outras varições dos bichos.

Estas ganhavam vida em forma de fantoche de mão, de marionete e mesmo de pequenos robôs manipulados por controle remoto. McVey ainda esculpiu algumas mascaras faciais para registrar os detalhes da expressão do fofinho Mogwai. A técnica consistia em vestir crânios com tais máscaras de látex e movimentá-las com cabos.

A opção (a única há 30 anos) em utilizar peças concretas em cena emprestavam um realismo que, se hoje podem parecer toscas para alguns, ao menos não nos distraiam pelo motivo errado. Ao contrário dos excessos dos atuais efeitos virtuais, tantas vezes extrapolando o equilíbrio do crível e do não-crível.

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