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Críticas

Heli

Estreia o melhor diretor de Cannes 2013

Por Luiz Joaquim | 03.07.2014 (quinta-feira)

Por uma bem-vinda circunstância, aportam no mesmo dia (hoje) no Recife dois filmes que vêm do México. Um é a comédia “Não Aceitamos Devoluções” (no Cinemark e Cinépolis – link da crítica aqui), que é a estreia na direção do ator Eugênio Derbez, referendada pela aprovação de 18 milhões de espectadores em seu país; e o outro é “Heli” (no Cinema da Fundação), a pancada forte que poucos conseguem suportar dada por Amat Escalante. O filme que lhe rendeu o título de melhor diretor em Cannes 2013. Entenda o porquê do êxito de cada um deles e o quão são distintos entre si.

HELI

A primeira imagem de “Heli” (Mex., 2013) mostra um coturno militar pisando a cabeça ensanguentada do protagonista que dá nome ao filme. Quando exibiu ano passado em Cannes, o título provocou a rara e bem-vinda reação própria da sedução cinematográfica graças a maestria dramatúrgica na direção de Amat Escalante. Mas também a da repulsa, por expor de forma tão direta e explícita as possibilidades da elaborada crueldade que o homem pode atingir.

Vivendo numa casa simples numa desertica e pobre cidade interiorana do México, Heli (Armando Espetia) é como seu pai, um operário da indústria automobilística. É uma região que, como diversas outras, parece depender ou desta opção profissinal, digna pela honestidade, mas miserável pelo condição; ou depender do tráfico, envolvendo aí militares corruptos.

É com um desses militares, o recruta Beto (Juan Eduardo Palacios), de 17 anos, que a irmã de Heli, Estela (Andrea Vergara), de 12 anos, se envolve e decide fugir para casar-se. Mas para isso, antes ela precisa entrar no jogo do rapaz e ganhar dinheiro fácil com um plano ingênuo.

“Heli”, o filme, trata menos de como esse plano dá errado e mais de suas consequências. O diretor Escalante está interessado no quanto o horror promovido pelo cartel das drogas infligido ao inconsequente Beto e aos inocentes irmãos Heli e Estela pode transformar seus personagens originalmente bons em zumbis transformados pelo trauma da bárbarie da tortura.

Nesse cenário, Escalante desenha e filma uma painel de violência fisica sádica, cuja razão de existir é praticamente incompreensível para pessoas saudáveis. Mas, vale lembrar, toda criação artística é inspirada pela vida real. Seria, portanto, um equívoco acusar “Heli” de malvado com seu espectador. Ele é apenas duro, e tristemente honesto.

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