O Céu É de Verdade
Pondo a fé sob prova
Por Luiz Joaquim | 02.07.2014 (quarta-feira)
O preconceito pode afastar para longe alguns potenciais espectadores deste “O Céu É de Verdade” (Heaven is For Real, EUA, 2014) que estreia amanhã nos cinemas. Isto porque o filme dirigido por Randall Wallace (roteirista de “Coração Valente”) tem como mote uma experiência real e extraordinário vivida por Colton, um garotinho de quatro anos que após passar por uma cirurgia delicada revela ter passeado pelo paraíso e conhecido Jesus Cristo.
Como diz o próprio pai do garoto no filme, o pastor Todd (Greg Kinnear, de “Pequena Miss Sunshine”), é normalmente pelo medo de algo que não se compreende totalmente que se gera o preconceito. E a própria indústria hollywoodiana procura não arriscar quando o assunto são os mistérios religiosos. Por isso não é de estranhar que este “O Céu É de Verdade” seja tão bem conduzido e até cauteloso, em certa medida, no seu discurso final em tentar nos fazer acreditar no que o menino conta.
Para criar um conflito profícuo entre a fé e o ceticismo, o roteiro de Wallace co-escrito com Chris Parker a partir do livro homônimo de Todd Burpo e Lynn Vincent carrega numa estrutura em que o próprio Todd começa a duvidar daquilo que prega todos os domingos no pacato município da calma Nebraska (EUA). Muito querido no condado, Todd, antes do fenômeno com seu filho, costumava lotar a igreja durante seus cultos exatamente por ser simples e lúcido, como ministro, indo direto ao ponto quando o assunto era utilizar as analogias da Bíblia.
Mas a cada nova revelação rica em detalhes do garoto em sua experiência extra-vida, Todd começa a questionar sua própria pequenez diante das certezas que o molequinho traz. “Não precisa ter medo”, diz o garoto com muita calma, após descrever ao pai o rosto de seu bisavô, que nunca viu em vida. Além de falar para Todd que ele não precisava ter “brigado com Deus” enquanto esteva na mesa de cirurgia.
Com a curiosa história chegando à imprensa, a família de Todd torna-se alvo das atenções e compromete a vida profissional do pastor. A essa altura, seu conflito também interfere na relação com a esposa (a londrina Kelly Reilly, de “Albergue Espanhol” e “Sherlock Holmes”), não tão crédula quanto o marido; e também com o próprio conselho de sua igreja, liderado por Jay (Thomas Haden Church, de “Killer Joe”), que prefere discrição ao contrário dos holofotes.
Apesar da trilha sonora açucarada, o elenco competente de “O Céu É de Verdade” empresta credibilidade ao que é mostrado o tempo inteiro. E com a conclusão de que o mais importante é compreendermos que ninguém está sozinho neste mundo, o flime deixa de lado a insistência na veracidade da história contada por Colton. Permite assim que o espectador tire suas próprias conclusões. Com a sábia estratégia, evita a condenação de si próprio como algo excêntrico, tornando-se apenas um interessante relato a respeito dos mistérios em estar vivo.
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