Planeta dos Macacos: O Confronto
Evolução símia
Por Luiz Joaquim | 24.07.2014 (quinta-feira)
Quando lançado em 1968, “O Planeta dos Macacos”, dirigido por Franklin J. Schaffner, deixou um legado até hoje explorado (muito) por Hollywood. O da concepção convincente no cinema para os filmes-catástrofe, no qual o mundo foi devastado por alguma espécie de holocausto, tendo arrasado tudo aquilo que conhecemos. E ainda é daquele filme talvez a mais chocante imagem deste gênero – no desfecho de sua história – revelando aquilo que já fomos e deixamos de ser.
Depois de uma malfadada refilmagem em 2001 com Mark Wahlberg no papel que fora originalmente de Charlton Heston, a Fox resgatou há três anos o românce escrito em 1963 pelo francês Pierre Boulle. Pelo sucesso da produção de 1968 nasceu a série que gerou a primeiro extensa franquia do cinema – foram feitos mais quatro longas-metragens até 1973 com os símios como protagonistas, além de uma telessérie a partir de 1974.
Com o ótimo “Planeta dos Macacos: A Origem”, de 2011, a Fox resolveu dar um novo ponto de partida ao enredo, contextualizando primeiro o surgimento, no momento contemporâneo, da inteligência do líder símio César (imagem criado a partir da feições do ator Andy Serkis), para só nos próximos anos chegarmos a sua conclusão e termos redesenhada por novas tecnologia a imagem final e chocante vista no filme de Schaffner.
Com a mega-estreia hoje no Brasil de “Planeta dos Macacos: O Confronto” (Planet of the Apes, EUA, 2014), dirigido por Matt Reeves, o estúdio nos leva mais um degrau acima na história da evolução dos macacos e da involução humana.
Aqui, já se passaram mais de dez anos após o conflito visto no filme anterior, que envolveu César e os macacos na ponte Golden Gate. De lá para cá, o virus originalmente criado em laboratório para a cura do Mal de Alzheimer, disseminou-se pelo mundo praticamente extinguindo a raça humana. Neste “O Confronto”, a trama concentra-se num grupo de centenas de humanos imunes ao vírus que vivem enquartelados em San Francisco. Liderados por Dreyfus (Gary Oldman) e tentam chegar numa antiga usina para fazê-la voltar a gerar energia.
No percusso, Malcom (Jason Clark) com sua namorada (Keri Russell), o filho dele (Kodi Smit-McPhee) e três assistentes precisam cruzar a floresta onde vive César, hoje pai de dois filhotes e líder de um comunidade organizada e inteligente, com sinais de civilidade. Os macacos montam à cavalos e frequentam uma espécie de escola, quando aprendem que macacos não matam macacos.
Toda a estrutura do premente conflito flutua sobre o voto de fé que César dá ao grupo de Malcom e sobre a traição promovida por Dreyfus. E não é uma estrutura simples. Isto porque o roteiro de Mark Bomback, Rick Jaffa, Amanda Silver (estes dois últimos responsáveis por “A Origem”) ganham proporções de uma tragédia grega com arcos dramáticos bem traçados, particularmente quando César descobre do pior modo que aqueles de sua espécie, assim como os humanos, também são capazes de trair.
Envolvimento dramático a parte, “O Confronto” repete mais uma vez o encantamento visual da obra que o precede. Agora com mais sequências filmadas em ambiente reais, o que amplifica a sensação de uma escala real da atmosfera apocalíptica. Aqui já projetada como um mundo em ruínas, com as ruas e os prédios de San Franciso vazios e sob densa vegetação.
Se há um senão no filme, ele está na extensão um tanto melodramática que abre seu início, apresentando César e sua família. É um açúcar musicado que não aparecia no enxuto “A Origem”, dirigido por Rupert Wyatt.
Mas o melhor que a tecnologia digital tinha a oferecer na obra de 2011, ou seja, a sutileza do sofrimento de César que era refletida apenas pelo seu olhar, repete-se em “O Confronto”. A isto é agregado novidades no mesmo grau de sutileza e terror, como os macacos aprendendo a manipular uma arma de fogo e compreendendo sua potência bélica, mas sem dimensionar o tamanho de seus efeitos.
No meio dessa guerra, César mantém-se como a única criatura que compreende as limitações dos dois mundos. Seus olhos são como os nossos, o dos espectadores, que procuram no meio do fogo cruzado uma solução que atenda bem a todos, ou seja, a da convivência em paz entre as duas espécies. Não é à toa que a última cena de “O Confronto” feche seu enquadramento para aquilo que só César vê.
CRONOLOGIA SÍMIA NO CINEMA
O Planeta dos Macacos (1968) – Charlton Heston é Taylor, um dos astronautas cuja aeronave cai num planeta desconhecido habitado por macacos inteligentes. Lá conhece os cientistas Cornelius e Zira, que se espantam ao ver nele um humano que fala, diferente daqueles que mantém em cativeiro.
De Volta ao Planeta dos Macacos (1970) – James Franciscus é Brent, astronauta enviado para resgatar Taylor. Uma vez no planeta, conhece o mundo dominado por macacos e vai a Zona Proibida. Descobre ainda uma comunidade subterrânea de mutantes que se comunicam por telepatia.
Fuga do Planeta dos Macacos (1971) – Estamos na Terra, no tempo presente e o mundo se espanta com a vinda do espaço numa aeronave dos EUA de dois chimpanzés que falam: Cornelius e Zira. Eles ganham popularidade e simpatia, mas um homem acredita que eles podem tornar-se uma ameaça à humanidade.
A Conquista do Planeta dos Macacos (1972) – Num mundo futurista, no qual macacos trabalham como escravos, César (Roddy McDowall) é o filho de Cornélius e Zira que ressurge após manter-se 20 anos escondido e prepara uma revolta dos escravos contra a humanidade.
A Batalha do Planeta dos Macacos (1973) – Dez anos após conquista a Terra, o líder dos macacos, César, quer abolir a escravatura humana e viver em paz com eles. Mas facções guerreiras de macacos lideradas por um general gorila, assim como vários humanos, ameaçam a estabilidade.
O Planeta dos Macacos (2001) – Refilmagem burocrática feita por Tim Burton sobre o filme de 1968. Desta vez com Mark Wahlberg no papel que era de Heston – aqui o personagem chama-se Leo, um astronauta que cai num planeta dominado por macacos que oprimem humanos primitivos.
Planeta dos Macacos: A Origem (2011) – A Fox dá um novo começo para a era dos macacos. No tempo presente, um cientista (James Franco) desenvolve uma substância para curar o Mal de Alzheimer. Testando em macacos, fazer surgir César, um chimpanzé inteligente que lidera uma rebelião.
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