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Críticas

The Rover: A Caçada

O fim da civilização, hoje

Por Luiz Joaquim | 07.08.2014 (quinta-feira)

A objetividade e o desenvolvimento do roteiro de “The Rover: A Caçada” (The Rover, Aus./EUA 2014), dirigido e roteirizado pelo australiano David Michôd, são tocantes em sua eficiência. Fazem lembrar como uma história pode ser hipnoticamente bem contada apenas com o encadeamento de imagens fortes dando um sentido dramático aos personagens em seu ambiente e, o mais agradável, dispensando diálogos gordurosos.

Apenas meia dúzia de palavras na abertura de “The Rover” já resolve com o espectador a referência de onde e em que momento estamos naquilo que nos é mostrado na tela. A informação diz que a paisagem desértica é da Austrália, e estamos “dez anos após o colapso”. É só.

O que temos ainda nos primeiros 15 minutos do filme é o rosto duro e desolado de Eric (Guy Pearce, de “Amnésia”) que para no restaurante de um posto de gasolina no meio do nada. Enquanto bebe ago, Eric nem percebe que do lado de fora três assassinos sofrem um acidente de carro numa pick-up e roubam o carro dele para continuar a fuga.

Daí em diante, “The Rover” concentra-se na inabalável determinação de Eric em resgatar seu carro. Não importando para isso que ele morra ou mate. Mas, quando se vive numa sociedade onde tudo parece descartável como sucata, por qual razão um homem é tão apegado a um carro velho?

Todo o resto em torno dessas informações vão depender de uma habilidade específica e bastante individual de cada espectador: sua imaginação. Ponto para o filme que, no percurso dessa caçada, vai liberando ao público algumas pílulas de novas informações sobre nosso anti-heroi.

Uma delas surge na figura de Rey (Robert Pattinson, de “Crepúsculo”). Ele é um garoto um pouco demente, um pouco religioso, que entra em cena como interlocutor dramático para o solitário Eric (e para nos espectadores). Servirá também para o protagonista chegar mais rápido ao seu precioso carro.

Durante esse processo de buscas e revelações, a fotografia em película feita pela britânica Natasha Brier (mais conhecida pelos latinos “XXY” e “A Teta Assustada”) em Super 35mm – mostra-se perfeita para captar altos contrastes e, consequentemente, cenas em lugares quentes.

O que na fotografia de Brier deixa a sensação de desconforto físico e desolação ainda mais saliente, no o roteiro e a direção de Michôd , auxiliados pelas boas performances de Pearce e Pattinson, nos dão a incomôda sensação de como seria o fim da civilização.

A falta de mais detalhes precisos quanto a tempo e espaço sugere também uma assustadora relação a ser feita enquanto vemos o filme: os “dez anos após o colapso”, anunciado na abertura, pode ser agora. Hoje. Em algum, ou alguns, lugar(es) do mundo. É assustador.

MAX – Em 1979, outro australiano – George Miller – fez um clássico envolvendo perseguições em automóveis pelas estradas desérticas e pós-apocalíptica em seu país. O filme, “Mad Max”, revelou Mel Gibson para o mundo e rendeu mais duas sequências. Hoje está em fase de refilmagem pelo mesmo Miller.

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