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Críticas

Rio, Eu Te Amo

Para inglês ver

Por Luiz Joaquim | 12.09.2014 (sexta-feira)

Há quase dez anos o produtor, roteirista e diretor francês Emmanuel Benbihy idealizou um projeto em que cineastas de todo o mundo estariam reunidos para, com seu talento, realizar episódios que seriam reunidos num longa-metragem sobre o carinho por uma cidade específica. Nasceu então a franquia “Cities of Love” (Cidades do amor), que gerou o seminal “Paris, Eu Te Amo” (2006), seguido por “Nova York, Eu Te Amo” (2009). Hoje chega aos cinemas do Brasil o terceiro volume, “Rio, Eu Te Amo”, contando com dez histórias dirigidas por profissionais e atores tão distintos quanto irregulares entre si.

A cidade foco, o Rio de Janeiro evidentemente, é agora o palco para breves exercício cinematográfico de César Charlone, Vicente Amorim, Guillermo Arriaga, Stephan Elliott, Sang-soo Im, Nadine Labaki, Fernando Meirelles, José Padilha, Carlos Saldanha, Paolo Sorrentino, John Turturro e Andrucha Waddington sob a produção da Conspiração Filmes, Bossa NovaFilms e a Empyrean Pictures.

Nos dez episódios predomina o espírito do romance, menos pela cidade e mais entre os casais que nela vão surgindo. É uma fórmula que também permeia os filmes anteriores. O Rio surge assim como o belo cenário que é, com imagens aéreas que ainda nos deslumbram mesmo já sendo tão familiar, graças a seus novos ângulos, renovando dessa forma sua beleza.

São poucos enredos, afinal, que apropriam-se realmente da cidade para concentrar sua dramaturgia. O primeiro deles é um exemplo disso. “Dona Fulana” (de Waddington), apoia-se no talento de Fernanda Montenegro como uma mendiga por opção, que mesmo com o neto insistindo para que volte para casa, ela persiste em perambular pela cidade simplesmente por que é isto que ela ama.

“Vidigal”, do sulcoreano Sang-soo Im – indicado a Palma de Ouro em 2012 por “Do-nui Mat” – também vagueia pela cidade acompanhado um garçom vampiro (Tunico Pereira), vinculando a alegria carnavalesca e a atmosfera de sexo na cidade com o espirito do monstro imortal.

Este que é o mais destoante dos episódios, contrasta apenas com a aspereza de “Inútil Paisagem”, segmento de José Padilha que por pouco fica fora do projeto. Padilha filma Wagner Moura voando de asa-delta ao redor da imagem do Cristo Redentor enquanto xinga o monumento, responsabilizando-o pelas desgraças da vida real na cidade. A provocação gerou desconforto na Arquidiocese da capital, que em abril proibia a inserção do episódio no longa, mas voltou atrás em julho. De todos episódios, “Inútil paisagem” é o único que questiona os encantos da cidade.

Fernando Meirelles também brinca com elegância, criando um belo exercício de efeitos sonoros tendo como cenário único as areias e o calçadão da praia de Copacabana. No seu “Musa”, um tímido escutor de areia (Vincent Cassel) esforça-se para com sua obra chamar a atenção de sua paixão secreta.

A libanesa Nadine Labaki é também uma das que consegue aproveitar o dia-a-dia da cidade num enredo que brinca com a fé de um garotinho indigente sempre a esperar a ligaçao de Jesus. Junto a seu personagem está Harvey Keitel. Ambos interpretam a si mesmos, como se estivem de passagem a trabalho pelo Rio.

As outras histórias, como “Pax de Deux”, de Carlos Saldanha com os bailarinos Rodrigo Santo e Bruna Linzmeyer tendo de decidir seu destino; ou “Quando não há mais amor”, de e com John Turturro e Vanessa Paradis, ou ainda “Grumari”, de Paolo Sorrentino, com a inglesinha Emily Mortimer, são contextos (frágeis) que poderiam acontecer em qualquer metrópole do mundo. Como resultado final, ficam na memória apenas as belas paisagens cariocas e uma sensação de que os gringos se divertiram durante sua estada na Cidade Maravilhosa.

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