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Festivais

38a Mostra SP (2014) – dia 5

O estrangeiro de si mesmo

Por Luiz Joaquim | 21.10.2014 (terça-feira)

SAO PAULO (SP) – Comentário de um critico de cinema carioca após ver “Permanência” (Bra., 2014), primeiro longa-metragem de Leonardo Lacca, na noite de domingo na 38a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: “Irandhir é mesmo uma aberração. Funciona em tudo”.

Mesmo com o esperado foco sobre a estrela e o talento do ator – que só neste festival aparece igualmente competente em outro dois filmes (“Ausência”, de Chico Teixeira; “A História da Eternidade”, de Camilo Cavalcante) –, é importante destacar que “Permanência” agrada por diversos outros aspectos.

Mantendo-se ainda no campo do elenco, a boa presença e o tamanho correto das personagens femininas de Rita Carelli e Laila Paz – tanto por parte de seus desenhos no enredo, quanto no corpo que as meninas dão às suas mulheres em cena –, “Permanência” aponta para o equilíbrio.

Com a fotografia de Pedro Sotero, a direção de arte de Juliano Dornelles, e a trilha sonora do inglês Jon Wygens (além do trabalho de Cláudio Nascimento e Carlos Montenegro) burilados e funcionando em comunhão, temos tudo reunido pela edição suave e fluída de Eduardo Serrano.

Com isto Lacca nos entrega um filme que tenta olhar para o interior do casal protagonista, sem deixar de se espantar com o que está ao redor, no caso a cidade de São Paulo.

Por este segundo ponto, “Permanência” aproveita-se do olhar “estrangeiro” do fotografo pernambucano Ivo (Irandhir) que vai a capital paulista para sua primeira exposição individual. Hospedado na casa da ex-namorada Rita (Carelli), hoje casada com o arquiteto Mauro (Silvio Restiffe, de “Tatuagem”), Ivo e ela precisam lidar com o carinho e o desejo forte que permanece entre os dois.

A estratégia dramatúrgica é simples e boa o suficiente para conquistar o público. O amor impossível causa, de imediato, uma tensão que vai, claro, levar o espectador a torcer para Rita e Ivo. “Permanência”, entretanto, tem o cuidado de não remoer sentimentalismos de maneira boba.

Ivo segue sua vida, e isso fica claro em seu envolvimento com outra mulher em São Paulo, muito embora o fantasma de Rita lhe persiga mesmo num reflexo de luz no avião.

No quesito da ambiência, a cidade de São Paulo e sua cultura parece ser fundamental aqui. O desconforto de Ivo ali, como um estrangeiro, é o mesmo desconforto que parece sentir em sua própria vida.

Lacca não poupa exemplos concretos disto, ora engraçados, ora tocantes. No caso do humor, um exemplo aparece na galerista (Sabrina Greve) de Ivo lhe perguntando: “Como está aquela cidade maravilhosa?”. “O Rio?”, responde Ivo em tom irônico.

No caso da delicadeza, temos Ivo escutando a namorada recifense pela secretária eletrônica do celular ao mesmo tempo em que ele observa, a distância e emocionado, a beleza simples e calma do amor de sua vida, Rita.

É simples, é verdadeiro, é bom.

Em tempo: o Recife poderá ver “Permanência” próximo sábado, no 7o Janela Internacional de Cinema do Recife

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