38º Mostra SP (2014) – noite 2
Acima das Núvens, de Olivier Assayas
Por Luiz Joaquim | 18.10.2014 (sábado)
SAO PAULO (SP) – A grande disputa, e é natural que seja assim, pelas sessões na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo são pelos títulos que concorreram oficialmente nos três maiores festivais do mundo – Cannes, Berlim, Veneza. E não foi diferente com o sofisticadíssimo novo filme do diretor francês Olivier Assayas (de “Clean”, “Horas de Verão”).
Na quinta-feira desta 38 edição da Mostra, este novo trabalho, “Acima das Nuvens” (Clouds of Sils Maria, Fra., Sui., Ale., 2014) – que disputou a Palma de Ouro este ano – foi a sessão mais badalada do dia. E não desapontou.
A partir de um roteiro original escrito pelo próprio Assayas, o filme já foi comparado a “A Malvada” (1950), de Joseph L. Mankiewicz, pelo fato de haver um embate velado nos preparatórios para uma peça entre uma talentosa atriz mais velha, Maria (Binoche), e outra mais jovem, a estrela de ação hollywoodiana Jo-Ann (Chloe Grace Moretz, de “Kick-Ass”).
Mas “Acima das Núvens” encanta pelos diversos campos que passeia. Há um conflito interno em Maria que só aceita fazer o papel pela comoção ao saber da morte do autor, seu amigo. Na peça, ela terá de viver, a contragosto, o papel de Helena, uma executiva aos 40 que comete suicídio ao apaixonar-se por Sigrid, uma jovem de 18 anos. É um personagem contra a qual ela reluta, uma vez que, 20 anos antes, Maria vivera no palco o papel de Sigrid.
Acrescente-se neste roteiro as sutilezas de convivência entre a atriz Maria e sua jovem assistente Valentine (a insossa Kristen Stewart, da saga “Crepúsculo”, pela primeira vez convencendo como boa atriz). Embora heterossexuais, o filme deixa isso claro, Maria e Valentine mantêm uma relação afetuosa e conflituosa como a que existe na peça.
Assayas procura confundir a cabeça do espectador, e o faz bem, embaralhando sentimentos das personagens da peça com os sentimentos das personagens do filme. Nessa longa conversa sobre o processo criativo do ator, “Acima das Nuvens” funciona também como um filme auto-crítico, ao tentar pôr em diversas perspectivas as intenções dos personagens tanto da peça quanto do filme.
Há ainda humor, que Assayas aproveita muito bem ao confrontar os estilos da atriz européia mais velha contra a lógica do circo midiático no qual vive a garotinha hollywoodiana. Sem elevar ou diminuir valores, Assayas apenas mostra fatos de dois universos distintos. Fica o recado de que o objeto artístico, mesmo sendo o mesmo, quando mais lido de formas diferentes, mais rico ele se mostra.
PREMIERES – Hoje estréia o esperado vencedor de Cannes na Mostra de SP – “Winter Sleep” (já com lotação esgotada), e amanhã a ótima sala do CineSesc na Augusta, exibe para os paulista o primeiro longa-metragem de Leonardo Lacca, “Permanência”, com Irandhir Santos.
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