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Festivais

7o Janela (2014) – dia 3

A natureza selvagem

Por Luiz Joaquim | 28.10.2014 (terça-feira)

É nesta 7ª edição do Janela Internacional de Cinema do Recife que, talvez até agora, o festival viva sua maior história de carinho com o atual cinema feito em Pernambuco. Entre tantos títulos valiosos sende exibidos nestes três dias da mostra, não é à toa que o horário nobre da principal sala do evento, o Cine São Luiz, tenha sido reservado para longas do Estado.

Depois “Brasil S/A” e “Permanência” na sexta e no sábado, hoje é a vez do Recife conhecer no horário das 20h30 “Ventos de Agosto”: a estreia de Gabriel Mascaro (“Um Lugar ao Sol”, “Doméstica”) aplicando num longa-metragem uma, digamos, dramaturgia cinematograficamente mais tradicional.

Apesar de nascido no Brasil mês passado, no 47o Festival de Brasília, “Ventos de Agosto” já conta uma bela trajetória internacional, que inclui o Festival de Locarno. A trama original criada por Mascaro acontece inteiramente na selvagem região litorânea de Porto de Pedras, Alagoas, mesmo locação vista no curta “Sem Coração”, de Tião e Nara Normande.

Ali Mascaro desenvolve uma tensão amorosa entre os jovens Shirley (Dandara de Morais) e Jeison (Geová Manoel dos Santos). São dois corpos livres que se cruzam naquele ambiente quase primitivo do ponto de vista de novas tecnologias. São namorados vivendo conflitos pessoais internos que os tornam, individualmente, presos de si mesmos.

Enquanto Shirley divide-se em cuidar – contra a própria vontade – da avó nonagenária, e em escutar música punk, e cultivar o gosto por tatuagens, Jeison processo em si mesmo uma nova relação com a morte a partir da chegada de um estudioso de ventos alísios que aparece na comunidade (interpretado pelo próprio Mascaro), o que inclui também a ausência materna em sua vida.

São dois corpos, podemos dizer, selvagens – no mais positivo sentido que a palavra possa carregar – seguindo rumos distintos a partir de um mesmo ponto. E é na maneira de Mascaro registrar as imagens e sons deste “ponto” que torna “Ventos…” o mais próximo de uma espécie de documentário etnográfico.

Os tempos de observação que Mascaro dá à natureza de Porto de Pedras perseguem uma consonância com o próprio ritmo de vida que se imagina naquele lugar. A isto, o cineasta não esquece o humor simples e autêntico próprio de pessoas/personagens simples e autênticas. São exemplos o pai que pede para as crianças não atrapalharem o trabalho do estranho estudioso, ou de Shirley argumentando com a avó que Deus, no caso das duas, foi benevolente apenas com a idosa.

PRÊMIO – A protagonista Dandara Morais, que já trabalhou na tevê Globo, foi contemplada em Brasília como a melhor atriz do festival. “Ventos de Agosto” também foi lembrado pelo prêmio “Vaga Lume”, concedido por espectadores portadores de deficiência visual.

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