Mostra Cães sem Plumas (Recife)
Fundaj inaugura Cães sem Plumas – Cinema
Por Luiz Joaquim | 07.10.2014 (terça-feira)
Começa hoje, às 18h com o filme “Os Dias com Ele” (2013), de Maria Clara Escobar, a mostra “Cães sem Plumas | Cinema”, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco. As sessões acontecerão nas terças-feiras de outubro (hoje, dias 14 e 21) e novembro (dias 4 e 11) desdobrando o tema que já foi objeto de exposição plástica e debates, e entra agora no campo cinematográfico.
Originalmente, “Cães sem Pluma” questionou os modos de representar situações de despossessão na arte contemporânea brasileira. Os filmes selecionados são exemplos recentes da potência do cinema em lidar com questões tão incômodas quanto fundamentais para entender o Brasil contemporâneo.
Entre abril e julho de 2014, foi realizada, em colaboração com o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), a exposição “Cães sem Plumas”, incluindo trabalhos de 25 artistas brasileiros. Também foram realizados, à época, uma série de três debates públicos em torno de questões sugeridas pelos trabalhos exibidos. Um catálogo documentando essas ações será lançado em 4 de novembro, após a sessão da penúltima sessão da mostra de filmes.
FILME – O filme de hoje, “Os Dias com Ele”, traz sofisticação ao buscas a identidade feita pela diretora a partir de conversas em Portugal com seu pai, o dramaturgo, intelectual comunista torturado na ditadura militar, Carlos Henrique Escobar. Sem falar sobre o assunto desde que passou a morar na Europa, Escobar coloca no filme suas opiniões fortes, condimentadas não só por indignação, mas também humor que Maria Clara soube otimizar no contexto do filme.
Em poucos minutos, o documentário conquista o espectador pela simples sedução do personagem, que tem como recurso apenas uma câmera a sua frente e sua capacidade de discursar com eloquência e clareza. Aos poucos, Escobar vai interferindo na própria concepção de feitura do filme e questionando as razões de existir do documentário.
“Este filme é sobre eu ou sobre você?”, questiona o pai, que na busca de Maria Clara insiste em dizer explicitamente que, com essa obra quer entender as lacunas deixadas pela Ditadura e pela separação dos dois. No processo de feitura, e isto está claramente exposto na tela, as situações invertem e as questões de identidades de um, do outro, ou dos dois, agora se fundem.
Nesse cenário humano, as cenas que Maria Clara procura fora do teatral Escobar revelam não só o homem, como também uma estratégia narrativa que aponta para várias direções do documentário contemporâneo. “Os Dias com Ele” é um dos melhores marcantes de 2013, problematizando identidade, família, política e a vida, cuja importância, ou desimportância, são relativizadas pela inteligência de pai e filha juntos se (re)descobrindo. Em uma palavra, lindo.
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