X

0 Comentários

Críticas

O Homem mais Procurado

Reforçando o talento de Seymour Hoffman

Por Luiz Joaquim | 06.10.2014 (segunda-feira)

É bom ver um cineasta construindo sua carreira cinematográfica de maneira cautelosa e sólida. São poucos os nomes que trabalham com um elenco hollywoodiano e mantêm liberdade para dar a eles e ao filme um tom pessoal e consistente no discurso. Um destes cineastas é o holandês Anton Corbjin que, durante décadas foi mais conhecido como o competentíssimo diretor de videoclipes e shows de bandas como Depeche Mode, U2 e Metállica. Hoje seu terceiro longa de ficção, “O Homem Mais Procurado” (A Most Wanted Man, EUA, 2014) pode ser visto nos cinemas.

O ingresso de Corbjin no cinema de ficção também se deu pelo universo musical, ao dramatizar a vida de Ian Curtis, vocalista do Joy Division, em “Control” (2007). Mas em 2010 partiu de um romance para contar a história de um assassino americano (interpretado por George Clooney) escondido na Itália com “Um Homem Misterioso”.

Em “O Homem Mais Procurado”, Corbjin também apropria-se de um romance. Na verdade, não qualquer romance, mas o homônimo escrito em 2008 pelo britânico John le Carré, especialista em tramas de espionagem.

Chama a atenção no filme a capacidade de Corbjin – junto à ótima adaptação pelo roteiro de Andrew Bovell e a competência de seu elenco – para criar diversos momentos de alta tensão apenas pela sugestão de diálogos afiados em que a relação de poder sugere o destino da segurança no mundo. E, para isso, não é preciso promover nenhum cataclisma plástico ou barulhento, como tiros, ou explosões, ou sequências de perseguição de automóvel pelas ruas de Hambugo, onde concentra-se a trama.

Essa trama segue o imigrante mulçumano checheno, Issa (Grigoriy Dobryngin), que chega ilegamente a Holanda após ser brutalmente torturado na Rússia. Issa tenta resgatar a herança milionária que seu pai teria lhe deixado e para isso conta com a ingênua ajuda da advogada humanitária Annabel (Rachel McAdams). Ao mesmo tempo, a polícia secreta americana e a alemã – esta comandada pelo experiente Günther (Hoffman) – disputam o comando pela investigação sobre o imigrante para entender se ele seria uma vítima, ou um extremista.

Mesmo com todas as qualidades de um enredo bem orquestrado em seus timings e sinapses, a primeira informação que a grande mídia vinculará a “O Homem Mais Procurado” é que este é o penúltimo filme completo deixado pelo ator Philip Seymour Hoffman (1967-2014) – o último é “Jogos Vorazes: A Esperança Parte 1” (estreia em novembro). E, sim, está é uma nota que merece destaque uma vez que na obra de Corbjin temos mais um exemplo de destaque para o incrível talento de Hoffman.

No filme, a atenção se divide entre a engenhosidade do roteiro, mas fixa-se mesmo em como os atores encorpam seus personagens e situações. Em Hoffman é quase palpável perceber sua técnica, que de tão precisa pode-se soar matemática em seus movimentos e pequenos gestos. Mas este é o caso exemplar em que a matemática aqui serve como sinônimo de “perfeição”, e não de “frieza”.

DISPUTA – Três das atrizes foram pensadas para o papel de Annabel: Amy Adams, Carey Mulligan e Jessica Chastain. Mas Annabel terminou sendo vivida por Rachel McAdams, que se preparou muito para o papel e aprendeu um sotaque alemão para interpretar a personagem.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade