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Críticas

Os Boxtrolls

A beleza do subterrâneo mundo dos humanos

Por Luiz Joaquim | 01.10.2014 (quarta-feira)

É de encher os olhos a beleza e acuidade plástica com a qual algumas animações nos chegam hoje pelo cinema. Nesse campo, os estúdios da norte-americana Laika Entertainment tem não apenas nos brindado com seu deslumbre visual por obras utilizando o processo stop-motion, como tem criado um universo afinadíssimo para, digamos, iniciar criancinhas no universo dos filmes de horror. Juntando-se às obras celebradas da Laika neste campo, como “A Noiva Cadáver” (2005) e “Coraline, e O Mundo Secreto” (2009), estreia amanhã no Brasil “Os BoxTrolls” (EUA, 2014), dirigido por Anthony Stacchi e Graham Annable (de “ParaNorman, 2012).

Vale registrar também a originalidade e coragem do roteiro criado por Irena Brignull e Adam Pava a partir do livro “Here Be Monster”, de Alan Snow. Um enredo onde a morte do pai do herói, o garoto Ovo, não é negada como sofrimento legítimo. Mas que herói chama-se Ovo? Nomes esquisitos é apenas uma das surpresas bem vindas de “BoxTrolls”. A começar pelo título. Aqui, os Trolls (palavra inglesa para pequenas e feiosas criaturas míticas que vivem nas cavernas) usam caixas (box) de papelão como roupa. Ou melhor, como um casco de tartaruga.

As caixas são o disfarce perfeito a despitar os humanos para quando as criaturinhas saem do subsulo e vão vasculhar as lixeiras na superfície de Pontequeijo, uma pequena cidade no século 19 onde os costumes e status são definidos pela qualidade dos queijos que se come. Daí a explicação do nome de Ovo. A sociedade acredita que o garoto foi sequestrado ainda bebê (dentro de uma caixa de ovos) pelos BoxTrolls e lá nas profundezas o devoraram. Mas, dez anos depois, o malvado Arquibaldo Surrupião – um vilão em excelente composição de personalidade misturando horror e humor – descobre que Ovo está não apenas vivo, mas totalmente integrado aos BoxTrolls, como uma espécide de menino-macaco Tarzan.

E se já tinha o objetivo de exterminar todos os BoxTrolls do subsolo de Pontequeijo para entrar na nobreza, Surrupião agora precisa esconder a mentira de que Ovo foi devorado pelos bichinhos feiosos. O que vai lhe atrapalhar é a garotinha Winnie, filha da nobreza na cidade, que também flagrou Ovo roubando lixo na superfície. Winnie é outro acerto de “Os BoxTrolls”.

A menina de personalidade forte seria a perfeita fã em formação dos filmes de horror gore, com seu curioso interesse por o quanto os BoxTrolls seriam sanguinários e devoradores de humanos, ela identificando-se com o órfão Ovo, uma vez que seu nobre pai não lhe dá atenção. Assim Winnie determina-se a ajudar Ovo a provar que os BoxTrolls são inocentes e totalmente do bem.

Os contrastes entre a nobreza de Winnie e os habitos nada higiênicos de Ovo dão o tom do humor no filme, assim como os próprios bichinhos de fala estranha e espécie de demência cerebral, sempre assustados com os humanos. Completando a graça, há Surrupião compondo um perfeito malvado em conflito com seu desespero para entrar na alta sociedade do queijo a qualquer custo, mesmo que isso signifique passar por cima de sua alergia a todo tipo de iguaria do tipo. Assustadoramente hilário.

TÈCNICA – Nos créditos finais, espere para ver os ajudantes de Arquibaldo Surrupião filosofando sobre a própria existência, dizendo o quanto a vida deles, mesmo o movimento mais simples, depende de um ser superior. A medida em que filosofam, o quadro da imagem vai abrindo o campo e vemos, em imagem acelerada, um técnico do filme fazendo os movimentos dos bonequinhos.

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