Pornochanchada e pragas na Fundaj
Pornochanchada e horror no Recife
Por Luiz Joaquim | 04.10.2014 (sábado)
Entre maio e agosto último, a Cinemateca Brasileira promoveu em São Paulo as mostras “Heróis e Anti-Heróis” e “Fantasia no Cinema”. A instituição abriu seu arquivo de cópias raras em 35mm e lá projetou diversos títulos. Destes, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco exibe hoje, em sessões únicas, “Quandos os Deuses Adormecem” (1972), às 17h10, e “Elas só Transam no Disco” (1983), às 20h20, de Ary Fernandes.
O primeiro é uma das raras sequências feitas pelo cinema brasileiro nos anos 1970. Dirigido por José Mojica Marins, o Zé do Caixão, “Quando os Deuses Adormecem” dá continuídade à história do personagem “Finis Hominis” (1971, do mesmo Mojica). Finis é um misto de profeta e louco, que volta ao manicômio de onde fugiu no filme anterior.
No enredo, os deuses que regem o universo adormecem e o Mal instala-se na Terra, fazendo com que imagens e sons do mundo desordenado voltem a povoar a mente de Finis. Ele sai às ruas novamente para pregar a razão e visita uma favela, um terreiro de umbanda, um casamento de ciganos e sai em peregrinação, sempre convidando os homens a refletir sobre seus atos. Especialistas na obra do gênio do horror brasileiro registram que este é um dos mais inventivos e inacessíveis filmes de Mojica.
À noite, o papo é outro. Vem pelo alucinado roteiro de Ody Fraga, um dos grandes autores da Boca do Lixo, local que foi o epicentro paulista da produção de pornochanchadas nos anos 1970/80. “Elas só Trasam no Disco” é nada menos que um filme erótico de ficção científica. A história divide-se entre uma equipe cinematográfica cujo diretor (Felipe Levi) tenta rodar um filme pornô em São Paulo e sofre com o boato de que um disco voador está aterrorizando a cidade.
Em paralelo, um delegado (Rubens Pignatari) vai investigar o caso do outro mundo mas, frustrado por não conseguir ter relações sexuais com a esposa graças aos filhos brigões e a implicante sogra, ele fica irritado, atrapalhando mais que ajudando a equipe do cinesta.
No final tudo é pretexto para Ary Fernandes mostrar diversas “transas” em situações tão absurdas que o efeito da excitação é suplantado pelo do humor. O riso é inevitável e em “Elas só Transam no Disco” é, na verdade, um exemplar perfeito do espírito que dominava a pornochanchada brasileira antes da triste chegada do sexo explícito nos cinemas do País, no início dos 1980. O filme, entre tantos da pornochanchada, merece revisão como uma obra que registrou o humor brasileiro com sua estética visual e discursiva própria, na qual o pudor sexual não era um problema na vida dos brasileiros.
FRAGA – O roteirista de “Elas Só Transam no Disco”, Ody Fraga foi um dos mais requisitados e atuantes do cinema paulista. Participou de cerca de 60 produções, ao longo de 35 anos de carreira. Ody é lembrado por sua agilidade para alinhar e solucionar histórias, argumentos e roteiros que, transformados em filmes da noite para o dia, batiam recordes de bilheteria nos cinemas de São Paulo.
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