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Críticas

Riocorrente

São Paulo explode

Por Luiz Joaquim | 09.10.2014 (quinta-feira)

Com sua premiere tendo acontecido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2013, “Riocorrente” (Bras., 2013), o primeiro longa-metragem de ficção de Paulo Sacramento (de “O Prisioneiro da Grade de Ferro”), finalmente estreia no Recife. Pelas sessões no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco a partir de hoje será possível conhecer a inquieta situação que o cineasta propõe a partir de um triângulo amoroso entre dois homens e uma mulher, além da figura misteriosa de um menino de rua em São Paulo.

Num roteiro, edição e fotografia conduzidos quase que totalmente voltado para sugestões metafóricas, “Riocorrente” tem, no final das contas, como principal personagem a cidade de São Paulo. Onipresente física e opressivamente na vida destas quatro figuras, a cidade nos é apresentada com muita força em sua frieza e indiferença de concreto.

Uma reunião de sémaforos vermelhos (em bela montagem, própria da competência de Sacramento neste campo); ou um leão que ruge e fita como uma esfinge a um garoto desafiador; ou os sons e imagens frenéticos de uma montanha-russa intercalados com cenas de sexo igualmente frenéticas são alguns dos elementos que ajudam a criar a atmosfera distópica de “Riocorrente”.

Nesse cenáro somos apresentados ao jornalista, crítico de arte, Marcelo (Roberto Audio), meticuloso e vivendo no seu mundo particular. Sua namorada Renata (Simone Iliescu), a princípio bem de vida, entediada e usando o sexo como elemento a suprir este tédio; e seu amante, o ladrão de carros Carlos (Lee Taylor, o melhor em cena), um constante revoltado numa misteriosa relação com um garoto de rua que atende pelo nome de Exu (Vinícius dos Anjos).

Com o trio, Sacramenta tenta dar uma dimensão em escalas diferentes de pensamentos distintos por incômodo a partir de uma mesma fonte: a vida massacrante numa metrópole impiedosa. Se o intelectual busca na arte um alento, e a mulher da classe-média busca no sexo algo que lhe renove, para o ladrão parece não haver mais fonte de energia.

Daí o constante tom explosivo (“explosão” serve como a metáfora mais forte aqui) de Carlos. Inspirado pela frase que escutou num filme – “as ideias voltaram a valer a pena” – Carlos assume como lema para si a letra de uma música de Arrigo Barnabé: “que melhor hora para mudar, que melhor lugar para começar, por que não agora e neste lugar”.

Já Renata emociona-se ao ouvir a romântica canção de Arnaldo Batista que fala de uma busca amorosa que durará mil anos; enquanto Marcelo acuado em seu isolamento simplesmente chora.

Apesar de realizado com extrema acuidade técnica (sons e imagens poderosos), que inclui a belíssima fotografia do grande Aloysio Raulino (1947-2013), “Riocorrente” parece representar todas suas opressões de forma um tanto excessivas, mesmo que coerentes. O resultado é uma exposição com gosto de incompletude, bastante amargo.

RAULINO – O fotógrafo de “Riocorrente”, Aloysio Raulino, estreou como fotógrafo no longa “Cristais de Sangue” (1975), de Luna Alkalay, do qual foi também produtor e co-roteirista. A partir daí, especializou-se como diretor de fotografia, função que exerceu em mais de um centena de filmes, sendo pelo menos 30 longas-metragens, como “O homem que Virou Suco” (1981), “O Baiano Fantasma” (1984), “Cartola: Música para os Olhos” (2006), “Cafuné” (2005), além de “O prisioneiro da grade de ferro” (2003), “Serras da Desordem”. Raoylino faleceu em maio de 2013.

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