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Festivais

7o Janela (2014) – dia 9

Entrevista: Camilo Cavalcante

Por Luiz Joaquim | 01.11.2014 (sábado)

É uma semana agitada e feliz para o cineasta Camilo Cavalcante. Há três dias, na 38º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, seu primeiro longa-metragem, “A História da Eternidade”, foi eleito pelo exigente público paulistano como o melhor filme brasileiro de ficção entre dezenas desta categoria exibidos na Mostra.

Hoje, às 20h15 no cine São Luiz, Camilo viverá outra emoção inigualável ao mostrar a sua cidade esta espécie de epopeia existencial que criou a partir de três mulheres incrustadas no Sertão pernambucano. “Estou muito ansioso. O filme vai passar num templo para mim. Junto com a família e amigos, vou estar vendo meu filme no mesmo lugar onde passei minha adolescência assistindo muito cinema”, contou na quinta-feira por telefone ao CinemaEscrito de Salvador, onde estava também pela exibição de “Eternidade” no 10º Panorama Internacional Coisa de Cinema.

Quando exibido pela primeira vez no Brasil – em julho no 6º Festival de Paulínia – o cineasta destacou que no sertão, “naquele lugar intocado, todas as relações são mais diretas”. Camilo agora desdobra o comentário dizendo que “A História da Eternidade” funciona como uma alegoria ao que significa ser humano, e que “existem vários sertões, mas este mais romanesco, como gosto de falar, guarda muita vida e é muito honesto. É um lugar que favorece paixões e amores com seu tempo dilatado. Essa atmosfera acaba por se confundir com o caráter dos personagens”.

Neste projeto que levou quase 12 anos da vida do cineasta, entre o embrião da ideia até o filme chegar às telas, o enredo nos é mostrado como um mosaico dramatúrgico vividos de forma interdependente por uma avó, Das Dores (Zezita Matos), uma mulher madura, Querência (Marcélia Cartaxo) e uma adolescente, Alfonsina (Débora Ingrid). Nesta última, surge uma paixão pela poesia do tio (Irandhir Santos), o único sensível da região a entender seu sonho. Já com a avó nasce um desejo carnal pelo neto fugitivo (Maxwell Nascimento).

“Os homens ainda podem deter o poder econômico num lugar como aquele, mas são as mulheres que dão conta da ação. São elas que estão na condução. É Alfonsina que controla a aproximação com o tio; é Das Dores que amamenta o neto, que lhe dá vida; é Querência que decide a hora de abrir a porta para o cego”

Nesse painel de dores, Camilo consegue apresentar uma nova cor e ressaltar ainda mais a universalidade do sertão por conta das referências particulares dali entre tempo e espaço. Há, no mínimo, dois momentos apoteóticos em “Eternidade”. Num deles, Irandhir Santos nos oferece um espetáculo ao som de “Fala”, do Secos e Molhados, noutro o mesmo ator faz a sobrinha “enxergar”, “ouvir” e “sentir” o mar na desértica paisagem de Santa Fé, a 60 quilômetros Petrolina.

Lá em Paulínia, Camilo já havia comentado que a condução estética da primeira parte de “Eternidade”, até chegar a estes pontos, foi cuidadosamente pensada para provocar uma espécie de epifania na platéia que, emocionada, invariavelmente aplaude a sequência em cena aberta. Hoje no São Luiz não deverá ser diferente.

“Do início do projeto até hoje, olhando agora para o filme, percebo seus momentos circulares, e há muitas imagens simbólicas como o sol, os olhos, que remetem ao elíptico, como o Oroboro [a mitológica figura da cobra que engole o próprio rabo, simbolizando o ciclo da vida]. O filme começa com a morte e termina com a vida, enfim”, encerrou.

SUCESSO – “A História da Eternidade” é disposto pelos capítulos “Pé de galinha”; “Pé de cabra”; e “Pé de urubu”. O filme estreou mundialmente no Festival de Roterdã, em janeiro último. Lá também conquistou os espectadores, o sucesso fez dele o 16º filme preferido pelo público numa lista de 199 títuos em votação.

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