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Críticas

Elsa & Fred (EUA, 2014)

Paixão na terceira idade

Por Luiz Joaquim | 27.11.2014 (quinta-feira)

A estreia hoje de “Elsa & Fred” (EUA, 2014), de Michael Radford, no circuito exibidor brasileiro mostra um pouco da lógica desse mercado (não apenas no Brasil), cujo maior combustível não são exatamente filmes de boa qualidade, mas produtos que se encaixam na lógica do star system, ou seja, aquela em que o nome de estrelas hollywoodianas, estampado nos pôsteres, valem mais do que a consistência artística que o enredo da obra oferece.

Explicando: “Elsa & Fred”, um pequeno e charmoso filme argentino do diretor Marcos Carnevale, foi lançado em 2005. Contava a história da septuagenária sapeca Elsa (China Zorilla) que, quase como uma adolescente, arrastava seu namorado – o recém-viúvo e octogenário resmungão Fred (Manuel Alexandre) – para ser seu cúmplice nos delitos leves que cometia, como ir a um restaurante refinado e fugir sem pagar a conta.

Por aqui no Recife, o delicado filme latino-americano exibiu há nove anos na chamada “Sessão de Arte” do circuito Severiano Ribeiro, tendo contado com apenas três sessões em uma semana. Já o “Elsa & Fred” que chega hoje aos multiplex – uma versão norte-americana protagonizada pelas estrelas Shirley McLaine e Christopher Plummer – ganha mais espaço e respeito na grade de programação dos multiplex do que recebeu a obra argentina que lhe deu origem.

Para conduzir a tão bela, e também triste, história do solitário casal que se apaixona na terceira idade, Hollywood foi atrás do indiano radicado nos EUA, Radford, um realizador que já transitou bem tanto no drama como na ação – é conhecido e querido por “1984” e “O Carteiro e O Poeta”, por exemplo.

Refilmagens costumam ser ingratas a seus realizadores, principalmente quando seu original soa tão redondo como é “Elsa & Fred”. Radford, portanto, aqui não altera em quase nada a trajetória do casal de velhinhos vizinhos que no início se estranha e depois vai se aproximando de forma comovente.

A única ousadia desta nova versão surge já no final, quando Radford busca um recurso estético para embaralhar plasticamente o sonho de Else com a felicidade que ela vai sentir graças a um presente dado por Fred.

O outro fator de força que a produção gringa tenta contar e com o carisma de McLaine e Plummer na tela. Mas, mais uma vez, os atores latinos China e Manuel, lá em 2005, pareciam mais afinados e mais a vontade um com outro em cena do que os veteranos atores norte-americanos no novo filme.

De qualquer maneira, o roteiro original de “Elsa & Fred” – escrito pelos argentinos Marcos Carnevale, Marcela Guerty e Lily Ann Martin – seja qual for sua versão – é boa o suficiente para sustentar a atenção dos espectadores, estimulando carinho e identificação pela dupla protagonista. Sem falar na belíssima declaração de amor que se mostra ser ao filme “A Doce Vida”, de Fellini.

SUCESSO – A produção argentina “Elsa & Fred” ganhou o mundo em 2005 e concorreu em vários festivais importantes na Espanha, Noruega, Estônia, além da Argentina, onde ganhou o Condor de Prata da Associação de Críticos daquele país para melhor atriz e figurino.

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