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Críticas

Irmã Dulce

Lição de fé, humildade e perseverança

Por Luiz Joaquim | 13.11.2014 (quinta-feira)

Há uma diferença sutil mas marcante entre “Irmã Dulce” (Bra., 2014) – filme de Vicente Amorim em cartaz exclusivamente no Norte/Nordeste – e os outros filmes brasileiros recentes que têm a religião como mote. Esta diferença está na protagonista, que dá título ao filme.

Ao contrário de obras como “Maria: Mãe do Filho de Deus” e do frágil “Irmãos de Fé”, que partem de fíguras bíblicas; e ao contrário do fantasioso “Nosso Lar” e da Bíblia ilustrada “Aparecida: O Milagre”, o filme de Amorim aponta para um real personagem de forte personalidade.

Para além de questões técnicas e opções estéticas desta produção, o fato de a Irmã Dulce (1914-1992) ser uma referência, ainda que pequena, a todos os brasileiros com mais de 30 anos de idade, este fato deixa quase que automaticamente o filme de Amorin mais próximo desses espectadores. Assim sendo, “Irmã Dulce”, o filme, estaria mais perto de sucessos (por mérito) como “Chico Xavier: O Filme” (2010), que abordou o médium mais respeitado no País, falecido há 12 anos.

E sim, “Irmão Dulce” é uma melodrama. Com sua trilha sonora matematicamente inserida nos momentos de tensão, física ou psicológica, ou nos momentos de ternura, o filme não nega sua intenção em ressaltar tais ferramentas usando-as em função de colorir cinematograficamente a vida da beata.

A questão é que tais opções não surgem aqui como um problema, mas com coerência uma vez que Amorim evita o pieguas – este parente próximo dos “clichês de melodradama” (o que não se aplica a “Irmã Dulce”).

Como não podia deixar de ser, resumir uma vida tão intensa e ativa como a do Anjo Bom da Bahia em 90 minutos acaba por deixar lacunas. É o caso, no filme, da iniciação de Dulce como a ainda menina Maria Rita, já preocupada em acolher os pobres.

O melhor da produção, então, concentra-se em duas fases na vida da religiosa. Quando ela inicia seus desafios numa congregação em Salvador (vivida por Bianca Comparato) e a mais madura, quando já é uma personalidade reconhecida no Brasil pelas obras filântropicas que realizou (na pele de Regina Braga).

No roteiro econômico e comedido de Anna Muylaert (“Durval Discos”), há ainda um fio condutor que liga estas duas fases. É o menino João (Lisandro de Castro Oliveira / Amaurih Oliveira), a quem Dulce salva a vida por três vezes ao longo dos anos e o toma como filho. Como desfecho, fecha-se um arco dramático que envolve um sonho da mãe de Dulce (Glória Pires), com seu primeiro encontro com Papa João Paulo II, em 1980. Não só cristãos mas qualquer pessoa caridosa irá perder o fôlego com o humor (sim), a perseverança e a humildade dessa mulher retratada pelo filme.

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