O economista Carlos Lessa é um dos depoentes no documentário

Quando lançou “O Longo Amanhecer: Uma Cinebiografia de Celso Furtado” em 2007, pelo qual analisava as idéias do economista falecido em 2004, o realizador José Mariani abria uma porta, por meio do depoimento de intelectuais e de imagens de arquivo, para a recente história do País. Tornou assim seu filme quase obrigatório nos cursos de economia, sociologia, antropologia e faculdades afins. Hoje, o Recife tem a oportunidade de ver seu novo trabalho – o documentário “Um Sonho Intenso”, que teve estreia em abril no festival paulista “É Tudo Verdade”.

O “Um Sonho Intenso” de Mariani – que está no Recife para participar de duas sessões do filme – tem sido elogiado por onde passa por apresentar de forma ágil, clara e prazerosa um tema a princípio denso e complexo: a história social e econômica do Brasil dos anos 1930 aos dias de hoje.

A estratégia é próxima a usada no filme anterior, quando alterna análises, depoimentos e trechos de filmes e reportagens de arquivo (com imagens de Getúlio Vargas, JK, e outros) dando dinâmica a boa fluidez a sua narrativa.

Entre os depoimentos que aparecem na tela evocando os meandros da construção do Brasil moderno estão os economistas Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, João Manuel Cardoso de Melo, Luiz Gonzaga Belluzzo, Ricardo Bielschowsky, o sociólogo Francisco de Oliveira e os historiadores José Murilo de Carvalho e Adalberto Cardoso.

Passando pelo período do governo militar pós-Golpe, passando pelo “Milagre Econcômico” dos anos 1970 até chegar ao período do governo Lula, o filme chama a atenção para alguns aspectos positivos deste cenário, mas principalmente, para suas falhas e perigos. Neste sentido, um dos alertas vem do economista da Unicamp, João Manuel Cardoso de Melo ao questionar: “Queremos virar uma caricatura dos Estados Unidos? Um individualismo de massas? Ou queremos construir uma sociedade fundada em valores humanistas?”.

“Um Sonho Intenso” tem suas sessões de hoje marcadas para as 9h, no auditório 4 da Biblioteca Central da UFPE, onde além de Mariani estarão os professores Fernando Weller (Comunicação) e Flávio Weinstein (História) participando de um debate após a sessão. À noite, às 19h, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco projeta o filme em DCP, onde Mariani também debate após o filme ao lado de Marcos Costa Lima e Gustavo Acioli. Ambas sessões têm entrada franca.

CONCEPÇÃO – Em entrevista, José Mariani já reveleou que a edição do filme foi feita “como uma obra de tapeçaria”, uma vez que, o caminho percorrido pelos depoentes soa coeso e didático, passando por uma revisão da Revolução de 1930 e da crise da economia cafeeira.