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Críticas

Uma Passagem para Mário

Dois amigos, um deserto e um filme

Por Luiz Joaquim | 06.11.2014 (quinta-feira)

O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco estreia hoje a produção pernambucana “Uma Passagem para Mário”, primeiro longa-metragem do cineasta cearense radicado no Recife, Eric Laurence. O documentário, que integrou a seleção do 6º Janela de Cinema em 2013, acompanha uma jornada pessoal do cineasta para esgarçar a potência e delicadeza de uma amizade. O ponto de partida é o Recife e seu amigo Mário Duques, com quem, em 2010, tinha planos para atravessar o deserto do Atacama, no Chile.

A questão é que Duques, a quem Laurence co-credita o roteiro, naquele ano passava por uma pesado tratamento quimioterapêutico. Com o corpo frágil, sentido dores profundas, sabemos por imagens feitas pelo próprio Duques que seu plano para a viagem precisaria ser adiado. Ao mesmo tempo, vemos Eric mesclando as imagens que fez no trajeto passando por Santa Cruz de La Sierra, Sucre, Potosí e Uyuni (na Bolívia) até seu destino final. Com isso, vamos entendendo que ele leva o amigo apenas na memória e em imagens no seu computador portátil.

Entrevistando personagens que encontra em seu percurso, Eric vai tentando desenhar uma explicação para a força de uma amizade e para como vale a pena viver a vida. Na voz do trio de músicos argentinos e francês, não deveria haver diferênca entre o amor familiar e o entre amigos. “Vivemos num mundo contra os sentimentos”, diz um deles emocionando-se.

Sempre colocando-se como ouvinte ou observador em suas imagens, Eric também nos faz observador das imagens feitas por Duques, em seu cotidiano em hospitais, com familiares e de pequenas vitórias diárias; quando acordar bem e sentir o sol podem ser o ápice do dia. Mergulhador, vemos duque também sob o mar, em Fernando de Noronha, naquilo que parecia ser o que mais lhe entusiasmava.

São estas mesmas imagens que irão servir, por uma efeito de projeção promovido por Eric em sua viagem, para homenagear o amigo e fazê-lo “chegar” ao deserto do Atacama com a mesma alegria com que dava um mergulho no mar. Antes disso, o próprio Eric perambula no vazio daquela região, de paisagens estonteantes. Sozinho, ele está a procura dele mesmo, ou a procura do amigo? O espectador decide.

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