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Críticas

A Família Bélier

Preconceito invertido

Por Luiz Joaquim | 25.12.2014 (quinta-feira)

“A Família Bélier” (La famille Bélier, Fra., 2014), filme de Eric Lartigau que estreia hoje nos multiplex, é mais um desses filmes que vem da França e mostra sua capacidade de cativar não apenas pela discussão temática que suscita, mas também envolve (e muito bem) pelo enredo inventivo interpretado por atores em perfeita sintonia.

Assim como a comédia “Intocáveis” (2011), de Olivier Nakache e Eric Toledano, encantou a todos com a amizade incomum entre um paraplégico milionário e um imigrante africano, o drama da adolescente Paula Bélier (a revelação Louane Emera) também poderá conquistar o espectador brasileiro com as idiossincrasias vividas por uma garota de 16 anos tocando a o dia-a-dia numa família na qual apenas ela tem o poder da audição.

Vivendo numa fazendo nas redondezas de um vilarejo francês, Paula divide sua agenda diária entre a escola e a ordenha do leite e a ajuda que presta à família vendendo queijo numa feira do município. A família do título é formada pelo seu pai Rodolphe (o sempre engraçado François Damiens, de “A Delicadeza do Amor”, 2011); a mãe Gigi (Karin Viard, outro rosto cômico conhecido na França, de “Um Dia de Rainha”), além de seu irmão mais novo, Quentin (Luca Gelber).

Só as diversas situações incomuns numa família assim – como a constrangedora ida de Gigi ao ginecologista usando a filha Paula com intérprete -, seriam suficientes para se criar bom humor. Mas a opção fácil não acontece aqui.

“A Família Bélier” dá consistência aos quatro personagens protagonista e envolve o espectador no drama individual de cada um deles; como o interesse de Quentin em perder a virgindade, a inquietação política de Rodolphe que se candidata prefeito por conta da má administração atual, da tristeza da mãe superprotetora e, claro, de Paula com o dom que descobre ter na voz através de seu professor de canto na escola, vivido pelo ótimo Eric Elmosnino – o interprete de Gainsbourg nos cinemas em 2010.

Com a possibilidade participar de um concurso em Paris, Paula se percebe num conflito ao pensar em deixar a família sozinha. Uma família que sempre aproveitou da filha para encurtar a resolução de problemas em função da surdez. Numa situação inusitada, dentro de uma família de surdos, Paula sofre um preconceito invertido, por ela ser a minoria naquele núcleo. É curioso este filme, além de bastante rico e tocante.

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