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Críticas

Batguano

Batman e Robin em crise da meia-idade

Por Luiz Joaquim | 19.12.2014 (sexta-feira)

Lembra de uma das mais famosas representações de Batman pelo audiovisual? Aquela em que o ator Adam West vestia a roupa do homem-morcego nos anos 1960 para a tele-série ilustrada com onomatopéias – do tipo “pow”, “boom” – que explodiam na tela na medida em que o herói e seu parceiro Robin soqueavam alguém? Pois bem, vem da Paraíba o filme “Batguano”, que mostra a Dupla Dinâmica vivendo num futuro próximo, no qual o mundo passa por uma crise por conta de uma peste disseminada por morcegos.

“Batguano”, o segundo longa-metragem de Tavinho, exibe hoje (às 20h15), seguida de debate com o diretor, dentro da 17º mostra Expectativa/Retrospectiva do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

No filme, o espectador irá conhecer um Batman sexagenário, gay e decadente além de, literalmente, faltando um braço. Ao seu lado um Robin na meia-idade que sai com o homem-morcego a procura de michês pela noite. A dupla ainda produz vídeo amador num galpão abandonado realizando performances na qual pratica felação explícita num minotauro.

Parece demais? Fotografado pelo pernambucano Marcelo Lordello, “Batguano” nos chega permeado por muito humor irônico que deixa o espectador incrédulo a cada nova situação que apresenta. Ainda assim, Tavinho (também roteirista) não abre mão de um cinema também audacioso tanto no discurso quanto no formato.

A situação saída de sua cabeça nos leva a um futuro no qual banana vale tanto quanto ouro. Batman (Everaldo Pontes) e Robin (Tavinho) moram num trailer velho e assistem tevê saudosos da época em que brilhavam nos tele-série dos anos 1960.

Pautado constantemente pela graça e pela provocação sexual, o cineasta não se inibe em utilizar (bem) diversas referências do cinema – a musica de Gustav Mahler usada em “Morte em Veneza” (1971), ou as cenas de “O Homem Elefante” (1980), e ainda o uso de back-projection para insinuar o movimento de um carro parado no set são exemplos.

E com essa mistura, “Batguano” vai desenhando uma curiosa realidade para o velho casal gay. É, na verdade, uma realidade melancólica. Tavinho, mesmo rindo e nos fazendo rir, nos lembra da indesviável decadência de todos nós e que isso é, no final, algo bastante sério.

ROTEIRO – Em uma das falas de “Batguano” Robin pergunta: O que você sente? Você gosta mais de Bette Davis ou Joan Crawford? Batman responde: Maria Gladys.

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