Caçada Mortal
Deus e o Diabo, num mesmo homem
Por Luiz Joaquim | 04.12.2014 (quinta-feira)
“Caçada Mortal”. Que triste título brasileiro para “A Walk Among the Tombstone” (EUA, 2014) – que numa livre tradução seria algo como “Um passeio entre as lápides”. Pelo título nacional, o leitor pode até desconfiar que já viu este filme. Tendo estreado nos Estados Unidos em setembro, este novo thriller de Scott Frank chega aos cinemas do Brasil só hoje, fazendo jus ao que de melhor suas produções apresentam: o roteiro.
Frank é sempre lembrando pela adaptação do livro “Minority Report”, de Philip K. Dick, para Steven Spielberg. Em a “A Walk…” ele adequa o romance homônimo de Lawrence Block escrito em 1992 para ele mesmo dirigir.
Estrelado pelo sempre seguro Liam Neeson, o enredo nos apresenta o detetive particular Matt (Neeson), um ex-policial já aponsentado há oito anos por conta de uma falha numa ação realizada enquanto estava embriagado.
“Caçada Mortal” situa-se em 1999, quando o “Bug do Milênio” era uma ameaça e os aparelhos celulares e a Internet ainda eram inacessíveis para muita gente. Sóbrio desde 1991 e frequentando os Alcoólatras Anônimos, Matt vive num bairro pobre de Nova York onde um drogado (Boyd Holbrook) lhe pede para ajudar o irmão, o rico traficante Kenny (Dan Stevens).
Kenny quer contratar Matt para encontrar os sequestradores que levaram sua mulher, seu dinheiro e ainda a assassinaram. Investigando, o detetive percebe que a ação dos bandidos segue um padrão. Eles sequestram sempre parentes de poderosos traficantes, que não podem pedir a ajuda da polícia. O que lhes permite praticar uma brutalidade doentia, no qual o dinheiro pago pelo resgate nunca garante a devolução da vítima viva.
Lendo assim, até parece mesmo que o leitor “já viu” este filme. Apesar do enredo familiar – ex-policial traumatizado caça serial-killers -, o roteirista/diretor Frank nos oferece uma material de primeira linha, com elenco afinado e meticulosa administração de informações. Tanto cuidado oferece bons momentos de tensão – é para isso que thrillers existem -; respigando, ainda, um pouco de humor com a entrada do adolecentes pobre TJ (Brian “Astro” Bradley), cuja função dramátiva vai sendo desenhada aos poucos na vida do policial triste, até encerrar o filme belamente.
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