X

0 Comentários

Críticas

Homens, Mulheres e Crianças

A internet ao redor

Por Luiz Joaquim | 03.12.2014 (quarta-feira)

Seja qual for a fase da vida, relacionamentos amorosos ou sexuais não costumam ser simples. Some-se a estes complicadores a crescente e desenfreada transformação pela qual passamos com a comunicação virtual em redes de relacionamentos na Internet.

O assunto, presente cada vez mais na vida da maioria das pessoas, já rendeu a Hollywood filmes interessantes como “A Rede Social” (2010) ou “Confiar” (2010). Amanhã (04/12) chega aos cinemas do Brasil um novo exemplar – “Homens, Mulheres e Filhos” (Men, Women & Children, EUA, 2014), de Jason Reitman – que afina o foco sobre o tema

Realizado a partir do livro homônimo de Chad Kultgen, o filme concentra-se em cinco famílias cujos filhos por volta dos 15 anos de idade estudam num mesmo colégio. Pautando a vida dos jovens está a fixação pela magreza da esquelética Allison (Elena Kampouris) e seu plano de perder a virgindade com um garoto mais velho.

Está a disfunção sexual de Chris (Travis Tope), que aos dez anos descobriu a pornografia por acidente na internet e, cinco anos depois, não consegue mais ter uma ereção sem o estímulo de um vídeo erótico. Está a paranoia de Hannah (Olivia Crocicchia) em virar uma celebridade sob a direção de uma mãe frustrada (Judy Greer) com sua própria juventude “perdida” por uma gravidez acidental.

Está a carência de Brandy (Kaitlyn Dever), ultra vigiada por uma mãe (Jennifer Garner) que, de tão paranoica com as redes sociais, intercepta todas as mensagens recebidas pela filha. E está o atlético Tim (Ansel Elgort) que a partir do vídeo “Pálido Ponto Azul”, com texto de Carl Sagan sobre nossa insignificância diante do universo, passou a desprezar o futebol americano, esporte que praticava apenas para agradar o pai (Dean Norris).

Ambos, a propósito, só têm um ao outro, uma vez que a mãe os abandonou para viver com outro homem na Califórnia, notícia que eles descobrem pelo Facebook.

Há ainda os pais de Chris, Don (Adam Sandler) e Helen (Rosemarie DeWitt) que tocam a vida juntos sem se darem conta do momento em que perderam o interesse sexual um pelo outro e, pela internet, acabam buscando a satisfação fora do matrimônio.

Em comum entre todos estes personagens está a comunicação mediada (e equivocada) pelo telefone celular ou computador. Este sim é o protagonista nessa história de erros em que as pessoas quase não olham mais para o lado, e sim para o display de seus smartphones.

Numa sequência inicial do filme, por exemplo, enquanto Hannah conta vantagens de suas experiências sexuais para a virgem Allison, esta manda texto pelo celular para a amiga do lado, duvidando da primeira. Em outra cena plasticamente interessante, vemos quase todos os adolescentes no colégio caminhando e enviando textos, enquanto balõezinhos sobem sobre suas cabeças pelos quais lemos suas mensagens.

O que há de quase aterrorizante nesta história é sua familiaridade com a forma como os pais precisam lidar hoje com os filhos na vida real, sem saber eles próprios as conseqüência de toda sorte de informação desarticulada lhes chegando ininterruptamente.

Contando também com uma narração em off (na voz de Emma Thompson) que descreve a intimidade dos personagens, o filme de Reitman tenta, entretanto, fazer uma amarração com o drama pela maneira como lidamos com as mídias virtuais e o texto de Sagan descrito em “Pálido Ponto Azul”.

Nele o cientista comenta o quanto nossa vaidade e problemas são nulos diante da imensidão do cosmos. Mas o leque dramatúrgico desenhado pelos personagens aqui vai além da vaidade. Perpassam por carência, incompreensão e outros aspectos humanos que seriam melhor resolvidos pela convivência e calor humano, algo, inclusive, que o filme sinaliza ao final. Ao contrário da relação forçada com a frieza da imensidão do universo.

Mais Recentes

Publicidade

Publicidade