O Pequeno Fugitivo Castanha
61 anos depois, uma estreia
Por Luiz Joaquim | 14.12.2014 (domingo)
O grande presente de hoje da 17ª mostra Expectativa/Retrospectiva do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco é uma joia rara chamada “O Pequeno Fugitivo” (Little Fugitive, EUA, 1953), de Morris Engel, Ray Ashley e Ruth Orkin, que exibe em sessão única às 18h50 em uma versão digitalmente restaurada.
Sem nunca ter estreado no Brasil, “O Pequeno Fugitivo” ganhou fama no mundo por ter sido declarado oficialmente uma inspiração para a Nouvelle Vague francesa. “Nossa Nouvelle Vague nunca teria surgido se antes não houvesse o jovem diretor americano Morris Engel, que nos mostrou o caminho para a produção independente, com seu ótimo filme”, disse François Truffaut, que seis anos depois lançaria em 1959 seu primeiro longa-metragem, também sobre o pequeno deliquente Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud).
Tendo recebido o Leão de Prata do Festival de Veneza, e sido celebrado por John Cassavetes e André Bazin, “O Pequeno Fugitivo” apresenta Joey (Richie Andrusco) o irmãozinho de Lennie (Richard Brewster). Os dois são muito apegados e inseparáveis. Um dia, sua mãe precisa deixar os dois sozinhos em casa. Lennie fica encarregado de cuidar do irmão caçula, porém, decide pregar uma peça em Joey fingindo ter sido morto por ele. Joey, assustado, foge de casa e vai para Coney Island, em um grande parque de diversões.
DOCUDRAMA
Logo depois, às 20h30, um outro destaque da mostra é o docudrama gaúcho “Castanha”, de David Pretto. Ainda inédito, no Recife, ele chega com o pedigree dos diversos festivais internacionais por onde passou: Berlim, Bafici (Arg.), Edimburgo, Hong Kong e Las Palmas.
Com os personagens interpretando suas próprias vidas, temos aqui João Carlos Castanha, que aos 52 anos vive só num pequeno apartamento suburbano com sua mãe Celina, de 72.
Castanha divide sua vida entre o trabalho como transformista numa boate gay, como ator de teatro e de televisão, ao mesmo tempo em que tenta cuidar de Celina, sempre preocupada com o ex-marido doente e internado, além do neto drogado – sobrinho de João Carlos -, que constantemente ameaça a família com violência por dinheiro para sustentar o vicio.
Ressaltando de forma brutal o contraste entre o ambiente alegre do trabalho de Castanha, com o ambiente sofrido de sua vida pessoal, o filme perturba tanto pelo grau de intimidade que alcança com seu protagonista, quanto pela capacidade de nos fazer sofrer junto a ele. No 6º Festival de Paulínia, em julho, recebeu o prêmio de melhor som.
ATRAÇÕES – A “Expectativa/Retrospectiva” também oferece hoje, às 14h25, “Vidas ao Vento”, a última animação do mestre japonês Hayao Miyazaki, e na sequência o 3D francês “Uma Viagem Extraordinária” (às 16h45), de Jean-Pierre Jeunet de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001).
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