18o Tiradentes (2015) – seminário político
Tiradentes põe política cultural em pauta
Por Luiz Joaquim | 31.01.2015 (sábado)
TIRADENTES (MG) – Além de espaço tradicional para a difusão e reflexão do novíssimo cinema contemporâneo brasileiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes também reserva um ambiente para incitar a política cultural. E num momento em que o Ministério da Cultura passa por transições com a posse, há 17 dias, de Juca Ferreira a frente da pasta, esta 18ª edição do evento promoveu na segunda-feira o debate “Perspectivas para o Audiovisual Brasileiro em 2015”, tendo como convidado o Presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel.
Rangel não veio. Enviou em substituição Rodrigo Camargo, do núcleo do Fundo Setorial da instituição. Sua ausência suscitou na Mostra a ideia de que esta é uma semana decisiva no MinC, quando definições importantes podem estar em discussão como a escolha do nome para assumir a Secretaria do Audiovisual.
Ainda nos bastidores da Mostra, pondera-se também sobre os três nomes em alta para ocupar o posto – Carla Francine, ex-coordenadora do Audiovisual de Pernambuco; o produtor Pola Ribeiro, do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia; e o cineasta Orlando Senna (este último também cotado para a Cinemateca Brasileira).
Atenta ao momento delicado, a coordenadora geral da Mostra de Tiradentes, Raquel Hallak, oficializou de última hora, na quarta-feira, uma nova mesa na programação para explorar ainda mais as diretrizes do desafio que Ferreira pronunciou na posse: “o audiovisual precisar estar acessível a todos”.
Com o nome “Diálogo da Cultura: um novo pacto do audiovisual brasileiro”, Tiradentes recebeu para o debate, na tarde de quinta-feira, Francine e o cineasta Ricardo Targino, com mediação de Adriano de Angelis, assessor especial do Minc., além da própria Hallak que abriu sua fala ressaltando: “acho que é a primeira vez que estou desta lado da mesa”.
EXEMPLOS
A fala de Francine abriu o debate compartilhando os êxitos de sua experiência em Pernambuco e o momento especial com o retorno de Ferreira ao MinC. “Depois de vermos programas sérios, como o Mais Cultura e as ações em escolas, hoje desmantelados pelas duas últimas gestões, entendemos que é preciso juntar forças agora e modificar esse cenário transformando o acesso à cultura no País”, disse.
“Quando começamos em 2007 em Pernambuco”, continuou, “escutamos não só quem produz, mas também a população para saber o que queriam da cultura no Estado. Isso extrapolou o âmbito da cultura, foi para a saúde e outras áreas, mas deu certo no nosso meio, principalmente no audiovisual”.
Para Carla, além da criação de marcos legal estabelecendo princípios e apontando para onde caminhar o audiovisual (“para os dirigentes partirem, mas os benefícios permanecerem”) outro ponto fundamental foram as criações de entidades e parcerias que surgiram trabalhando com o poder público.
“Em 2007, só dialogávamos com a ABD-PE, hoje temos a APCNN, o Sindicado dos Trabalhadores de Cinema e a Federação Pernambucana de Cineclubes. Lembrando que os cineclubes são células revolucionárias”. Encerrando, a convidada disse que nem era preciso “criar a roda, apenas fazê-la girar pra fazer o audiovisual ter a mesma grandeza que tem o povo brasileiro”.
Para Targino, com a volta de Ferreira ao MinC, a cultura viverá um novo “Do-in antropológico, que só a cultura pode fazer”, citando Gilberto Gil sobre a técnica da automassagem. “Com a gestão de Ana de Hollanda e Marta Suplicy na pasta, tudo se retraiu e a categoria se manifestou. Temos de juntar e equilibrar forças para macunaimicamente resolvermos estas questões. Quero ter orgulho de fazer parte de uma categoria que não olha apenas para seu umbigo”.
Targino também disse que está na hora de “tiramos nosso cinema do quartinho de brinquedo e colocar nosso carro na rua. E alguns pontos de partida já estão prontos”, disse ele lembrando a lei 13.006, que coloca no cinema brasileiro nas escolas. “Além de pensarmos como vamos formar esses brasileirinhos, é preciso instalar um conselho nacional de política audiovisual”, provocou.
Raquel Hallak deixou claro que o encontro era também para dar as boas-vindas ao novo governo e lembrou que os quatro eixos do projeto “Cinema sem Fronteiras” (que inclui a mostra de Tiradentes, de Ouro Preto e o CineBH) já atuam na formação, reflexão difusão e exibição do cinema nacional.
“De 1998 até hoje, desafios foram surgindo e entre eles apareceu o patinho feio do meio, que é a preservação. E com a 10º edição da Mostra de Ouro Preto, que faremos este ano, queremos pensar uma nova cinemateca brasileira”, antecipou.
A coordenação da Mostra concluiu o debate convidando a mesa para a redação da “Carta de Tiradentes, 2015” (a primeira foi em 2011) idealizando propostas ao governo sobre preservação (inclusive digital), mercado, intercâmbios e que os festivais possam fortalecer tudo isso. A carta deve ser divulgada hoje à noite, no encerramento da Mostra.
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