18º Tiradentes (dia 4)
Longa coletivo cearense inaugura o -Aurora-
Por Luiz Joaquim | 28.01.2015 (quarta-feira)
TIRADENTES (MG) – Com o início na noite de segunda-feira do programa competitivo “Aurora” na 18º Mostra de Cinema de Tiradentes, o evento mineiro ganhou novos e ainda mais atentos olhares sobre sua seleção uma vez que o “Aurora” – um dos oito programas temáticos do festival – é dedicado a filmes independentes de diretores com até três longas-metragens no currículo.
Com títulos inéditos no País, o programa contemplará no encerramento do festival um dos filmes com o prêmio do Júri da Crítica e o Prêmio Itamaraty de R$ 50 mil. O primeiro dos sete títulos selecionados para edição 2015 do “Aurora” veio do Ceará.
“O Animal Sonhado” é um longa coletivo, dirigido a 12 mãos por Breno Baptista, Luciana Vieira, Rodrigo Fernandes, Samuel Brasileiro, Ticiana Lima e Victor Costa Lopes. Na verdade, disposto em seis episódios interdependentes, o filme tem o sexo como único ponto de conexão entre as histórias.
Alternando-se entre situações ora cômicas ora tensas, os enredos valorizam mais a construção discursiva cinematográfica do que verbal. O que é bom, mas não suficiente. Os enredos cômicos, apesar de competentes, soam mais como um bom exercício de construção narrativo visual do que um filme a ser admirado. Passada a piada, passa-se o interesse.
Outro aspecto que empurra “O Animal Sonhado” para baixo no que concerne às histórias dramáticas está na quase juvenil questões a que se propõe, ou como propõe. Apesar das diversas cenas de sexo encenadas (e talvez até por isso), elas vão gradativamente perdem sua força. O último episódio, entretanto, como uma espécie de delírio de sexo coletivo envolvendo sangue, muito sangue, nos faz acordar da reiteração sexual que a obra impõe.
FOCO
Outro programa que chama atenção por aqui, este de curtas-metragens, é a “Foco”. Com doze títulos concorrendo ao prêmio da crítica, o programa 1 exibiu também na segunda-feira apresentando ao Brasil ao menos duas pérolas da categoria: “A Era de Ouro”, de Miguel Antunes Ramos e Leonardo Mouramateus; e “Outubro Acabou”, de Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes.
O primeiro, rodado por cearenses em São Paulo, apresenta o reencontro de um casal na capital paulista anos depois dela (Ana Luiza Rios) ter mudado para a megalópole onde alçou voo rápido e sofisticou-se numa rica empresa de valorização de imóveis. Ele (Edivaldo Batista), ainda é o mesmo rapaz simples e sensível à arte. Enquanto ela se esforça para continuar subindo, ele tenta resgatá-la a sua origem.
Citando textos de Tchekhov, Mouramateus e Ramos, criaram aqui uma situação absolutamente tensa e melancólica na qual o não dito é tão eloquente quanto as sutilezas que saem da boca dos protagonistas. “A Era de Ouro” é o perfeito curta a ser programado ao lado do longa “Permanência” de Leonardo Lacca.
Já “Outubro Acabou” apresenta o fofo Antônio Akerman Seabra, moleque com seus quatro anos de idade, filho do casal de diretores do curta. O personagem de Antônio é uma cineasta precoce. Filma em Super-8, em 16mm, mas não se satisfaz até ter sua maior iluminação interna surgir e fazer sua grande obra a partir das memórias de sua ainda curtinha existência nesse mundo.
Soou curioso mostrar a obra com imagens aleatórias feitas por Antônio após a sessão do curta “Filme Selvagem”, do cearense Pedro Diogines, dentro do mesmo programa. Já o belo “Ilha”, do paraibano Ismael Moura, saiu prejudicado pela projeção num formato que deixou sua bela fotografia esmaecida.
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