18º Tiradentes (dias 1,2 3)
A Dira transnacional
Por Luiz Joaquim | 27.01.2015 (terça-feira)
TIRADENTES (MG) – O ano cinematográfico no Brasil deu partida sexta-feira (23), como todos os anos, com Mostra de Cinema de Tiradentes, hoje em sua 18ª edição. Já celebrado como terreno sagrada para o lançamento da novíssima e mais ousada produção audiovisual nacional, o evento casou os 30 anos de carreira da atriz Dira Paes em 2015 para homenageá-la, exibindo na noite de abertura a primeira sessão de “Órfãos do Eldorado”, ficção de Guilherme Coelho, baseado no livro de Marcos Hatoum.
Acompanha pela família no Cine Tenda, a atriz agradeceu o Troféu Barroco que recebeu das mãos do secretário de cultura de Minas Gerais, Ângelo Oswaldo, lembrando que “cada um dos personagens que fiz nestes 30 anos traz um pouco de mim”.
Na manhã de sábado (24), a atriz participou da mesa “O Percurso da Dira Paes”, ao lado de realizadores que a dirigiram –Coelho e Rosemberg Cariry (que teve seu “Corisco e Dadá”, de 1996, estrelado por Dira, re-exibido aqui). Cariry, a propósito, definiu a atriz como “transnacional” ressaltando sua versatilidade no audiovisual.
“O que parecia ser meu algoz, que é essa minha aparência muito específica, virou meu trunfo, pois me deu chance de interpretar tantos personagens brasileiros e representar a nossa miscigenação”, comentou Dira, relembrando o início de sua trajetória no filme americano “A Floresta das Esmeraldas” (1985), de John Boorman.
Sobre sua atuação na tevê, a atriz salientou que já recusou papéis por não gostar dos personagens. Foram tempos em que o cinema lhe provia uma independência financeira. “Me virava fazendo dois filmes por ano, mas tinha a convicção de não aceitar nada só para estar na tevê”, afirmou.
FILME
A noite de domingo encerrou com a exibição às 23h do primeiro longa-metragem do paulista Gregório Graziosi, “Obra”, protagonizado por Irandhir Santos. No enredo, o ator vive um jovem arquiteto em São Paulo assumindo sua primeira grande construção, que se dá num terreno que foi de seu avô. Ao descobrir restos mortais de 12 corpos humanos enterrados ali, entra em crise com a herança que recebeu da família.
Assim como nos seus curtas-metragens, Graziosi preza pela estética plástica – e aqui ela aparece em P&B e com enquadramentos precisos e belos sobre o excesso de concreto em SP, sempre vista de uma perspectiva longe do solo.
Funciona bem a relação do corpo do arquiteto – sofrendo pela descoberta de uma hérnia de disco, doença também de seu avô – com a situação decadente de construções paulistanas. A analogia é boa para dizer que o futuro não pode ser erguido renegando o passado. Prestes a ter um filho, tudo o que o aflito arquiteto quer é que sua cria não herde nenhuma das duas heranças: nem a doença física nem a irresponsabilidade urbana e criminosa.
PERNAMBUCO – O sábado em Tiradentes viu o curta-metragem de Tião e Nara Normande – “Sem Coração” – dentro da mostra Panorama; e o domingo projetou “Canto de Outono”, de André Antônio, a partir de poemas de Baudellaire.
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