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Críticas

Leviatã (Leviafan – 2015)

Luta inglória, paciência de Jó

Por Luiz Joaquim | 22.01.2015 (quinta-feira)

Estreia hoje no Recife, com exclusividade no Cine Rosa e Silva, a produção russa “Leviatã” (Leviafan, 2014), vencedora do Globo de Ouro como filme estrangeiro e um dos fortes candidatos na mesma categoria do Oscar 2015, cuja premiação acontece 22 de fevereiro.

Além das duas referências norte-americana, este quarto longa-metragem de Andrey Zvyagintsev também carrega o título de melhor roteiro no Festival de Cannes do ano passado, além do prêmio da crítica da Mostra de São Paulo 2014, entre vários outros que amealhou mundo afora.

Apesar de sua inquestionável qualidade cinematográfica, o ritmo de “Leviatã” em seus 140 minutos de duração não fazem do título um filme facilmente digerido pela maioria das pessoas, o que o tornará um provável difícil sucesso de público, apesar do apelo do todo poderoso símbolo “Oscar”.

Quando exibido em Cannes, Andrey Zvyagintsev descreveu seu filme como uma livre releitura do “Livro de Jó”. No enredo temos um homem comum que precisar lutar com a sua fé, mas não na Rússia. É uma luta épica contra um monstro com muitos rostos possuídos da capacidade de dobrar a lei para atender sua própria fome.

Neste retrato que “Leviatã” desenha de sua sociedade, escancara sua podridão nas figuras do poder público (prefeitura, polícia) tudo aparece a partir de uma pequena cidade russa.

Não haveria melhor titulo para o filme considerando-se que a mitológica figura de Leviatã, um monstro marinho gigante – ou o demônio da inveja, pelo catolicismo – serve de metáfora para a luta legítima e desigual que o herói Kolya (Aleksey Serebryakov) trava contra o prefeito corrupto e violento do vilarejo próximo ao mar.

Kolya luta para permanecer no terreno que é de sua família há gerações, enquanto o prefeito usa sua influência política para transformar a vida de Kolya em algo parecido com um inferno.

Um dos destaque do filme fica para como Zvyagintsev, também autor do roteiro, vai colocando o espectador aos poucos dentro das diversas camadas de circunstâncias da trama.

Como se não bastasse as semelhanças com algumas circunstâncias da cultura brasileira – por mais absurdo que isso possa parecer vindo de uma produção russa – o enredo de “Leviatã” também apresenta um bem desenhado humor ácido. Nele, a política de seu pais e os costumes etílicos dos personagens dão o tom cômico que fará o espectador abrir sorrisos de identificação.

HISTÓRICO – O primeiro longa-metragem de Andrey Zvyagintsev, “O Retorno” (2004), também foi indicado ao Globo de Ouro, mas não saiu premiado. Antes fora premiado em Veneza, mas não foi lembrado pelo Oscar.

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